domingo, 26 de outubro de 2008

PITÁGORAS




PITÁGORAS DE SAMOS (cerca de 580-497 a.C.)
É muito pouco o que conhecemos sobre a vida de Pitágoras. Este indivíduo cedo foi envolvido pelo legendário, de modo que é difícil separar nele o histórico do fantástico. Nasceu em Samos, rival comercial de Mileto. Pelo ano de 540 a.C. deixou sua pátria, estabelecendo-se na Magna Grécia (sul da Itália). Em Crotona fundou uma espécie de associação de caráter mais religioso que filosófico, cujas doutrinas eram mantidas em segredo. Seus adeptos logo criaram novos centros: Tarento, Metaponto, Síbaris, Régio e Siracusa. Participantes ativos da política, provocaram a revolta dos crotonenses. Pitágoras então abandona Crotona, refugiando-se em Metaponto, onde morreu em 497 ou 496 a.C..
Pitágoras não deixou nenhum documento escrito. Seus ensinamentos, transmitidos oralmente, eram rigorosamente guardados em segredo pelos primeiros discípulos que também nada escreveram. Daí a grande dificuldade em reconstituir o pensamento do pitagorismo primitivo e ainda mais o do próprio Pitágoras, distinguindo-o do de seus discípulos. No entanto, o pitagorismo exerceu profunda influência na filosofia grega, quer pela reação polêmica que provocou (Xenófanes, Heráclito, Parmênides, Zenão), quer pelos elementos positivos que passaram aos pensadores posteriores. Ao pitagorismo posterior — com escritos — pertencem Filolau e Arquitas. Podemos considerar com algum grau de certeza que os seguintes aspectos correspondem ao pensamento de Pitágoras:
Afirmou a transmigração das almas (isto é, sua passagem por diferentes corpos, tanto humanos quanto animais) e a reencarnação. Propôs a purificação da alma pelo conhecimento ou pela vida contemplativa, isto é, pela theoria, única que poderia libertar-nos da “roda dos nascimentos”. Atribui-se a Pitágoras a idéia de aumento da sabedoria graças a regras de vida fundadas no silêncio, no isolamento e na abstinência (abstinência sexual, abstinência de certos alimentos, como carnes e favas, e de bebidas fortes). - Segundo os doxógrafos, Pitágoras teria dito que aos Jogos Olímpicos comparecem três tipos de homens: os que vão para comerciar e ganhar a expensas de outros; os atletas, que vão para competir e exibir suas qualidades ao público; e os que vão para contemplar os torneios e avaliá-los. Assim também existem três tipos de almas: as cúpidas, presas às paixões; as mundanas, presas às vaidades da fama e da glória; e as sábias, voltadas para a contemplação.- Por ser um adepto de Apolo Delfo, o deus dos oráculos, considerava que a verdade chega aos homens por inspiração divina e teria dito que a verdade plena ou a sabedoria pertence ao divino, cabendo ao sábio (soÒj) apenas desejá-la e amá-la, ligando-se a ela pelo laço da amizade (il…a). Aquele, portanto, que tem amizade pela sabedoria é filósofo e suaatividade chama-se filosofia. - Como todos os primeiros filósofos, Pitágoras buscou explicar a Úsij através de uma ¢rc» e afirmou que esta era o número. Como teria chegado a essa idéia? Os exercícios espirituais da comunidade pitagórica eram realizados ao som da lira órfica ou a lira tetracorde (lira de quatro cordas), e é muito provável que Pitágoras tivesse percebido que os sons produzidos pela lira obedeciam a princípios e regras para formar os acordes e para criar a concordância entre sons discordantes, isto é, os sons da lira seguem regras de harmonia que se traduzem em expressões numéricas (as proporções). Ora, se o som é, na verdade, número, por que toda a realidade — enquanto harmonia ou concordância dos discordantes como o seco e úmido, o quente e o frio, o bom e o mau, o justo e o injusto, o masculino e o feminino — não seria um sistema ordenado de proporções e, portanto, número?
A proporção ou harmonia universal faz com que o mundo possa ser conhecido como um sistema ordenado de opostos em concordância recíproca e por isso, assim como Pitágoras foi o primeiro a falar em iloso…a, foi o primeiro a falar no mundo como kÒsmoj.
- Porque o mundo seria regido pelas mesmas leis de proporcionalidade que as das cordas da lira, Pitágoras teria dito que há uma música universal e que não a ouvimos porque nascemos e vivemos em seu interior e não possuímos o contraste do silêncio que nos permitiria ouvi-la. No mundo, as cordas da lira são as esferas celestes, onde se encontram os astros, e a esfera terrestre, onde nos encontramos. A música ou harmonia universal é a relação proporcional e ordenada entre as esferas ou entre o céu e a terra.
- A natureza numérica da Úsij ou a estrutura harmônica do mundo ou kÒsmoj está presente em todas as coisas e também na alma, uc». Segundo os doxógrafos, Pitágoras e seus discípulos teriam dito que “a alma é harmonia” (portanto, unificação de muitos elementos e concordância dos contrários ou discordantes). Justamente por ser constituída pela mistura de muitos elementos discordantes, a alma precisa buscar a concordância entre eles e fazer com que os elementos superiores dominem os inferiores. Pitágoras afirmava também o poder terapêutico da lira sagrada de Orfeu porque a harmonia de seus sons auxiliava o esforço da alma para ser, ela também, harmonia, estabelecendo a justa proporção entre os contrários que a constituem. Há, portanto, em Pitágoras, uma ética deduzida da cosmologia.
PITÁGORAS DE SAMOS (PARTE II)
O que sabemos sobre o pitagorismo nos vem de fragmentos deixados por pitagóricos como o médico Alcmeão de Crotona e os matemáticos Filolau de Crotona e Arquitas de Tarento, assim como por referências de Platão e Aristóteles, e pela doxografia. Ao afirmar que os pitagóricos foram os primeiros a fazer avançar as matemáticas, em sua Metafísica, 1, 5, Aristóteles afirmou a opinião de todos os antigos de que os pitagóricos foram, de certa maneira, os criadores da geometria
como ciência das figuras, volumes e superfícies e os primeiros a estabelecer relações entre ela e a aritmética ou a ciência dos números.
Para compreendermos o que o pitagorismo quer dizer quando afirma que o número, ou melhor, o Um é a Úsij e a ¢rc», precisamos compreender o que entendem por número. Lembremos que os gregos e romanos representavam os números por letras, pois os algarismos, tais como os conhecemos, foram inventados pelos árabes; e Euclides, o grande sistematizador da matemática grega, em seus Elementos — escrito por volta de 300 a.C. — representava os números por letras e linhas. Lembremos também que gregos e romanos desconheciam o zero e que este também foi concebido pelos árabes. Primitivamente, os gregos representavam os números por pontos arranjados em desenhos simétricos e facilmente reconhecíveis, como em cada face de um dado ou em peças de
dominó. Essa representação tinha a seguinte peculiaridade: os números não eram concebidos numa seqüência — 1, 2, 3, ... — obtida pelo acréscimo do 1 a cada número da série; mas eram
concebidos cada qual como uma unidade discreta e independente, ou seja, havia o 1, o 2, o 3, o 4, etc.. Os pitagóricos, porém, inventaram a representação aritmético geométrica dos números, distribuindo-os em figuras. Graças a essa nova maneira de representação, puderam: 1. definir a
unidade (mon£j); 2. tomar os números como seqüência ordenada; 3. distinguir os elementos constitutivos dos números, isto é, distinção entre o par (o divisível ou ilimitado) e o ímpar (o indivisível ou limitado); 4. diferenciar pontos e superfícies, chamando aos primeiros de “termos” (ou limites) e às segundas de “campos” (ou lugares). Ao que tudo indica, o início dessa invenção foi o estudo de uma figura que o pitagorismo julgava sagrada, a tetraktÚj (tetráktys ou tetráktys da década), isto é, a representação do número 10 (ou da década) por um triângulo eqüilátero em que cada lado é constituído por 4 (tetras) pontos, com um ponto no centro: Lembremos que o ponto de partida dos pitagóricos foi o estudo da lira tetracorde, isto é, a lira de quatro cordas. Ora, a
tetráktys da década (ou a década constituída pelos lados de quatro pontos) é considerada sagrada e perfeita porque possui características que nenhum outro número possui: 1. é igual à soma dos quatro primeiros números (1+2+3+4), ou, na linguagem pitagórica, é a síntese da unidade, da díada, da tríada e da quadra; 2. inclui uma quantidade igual de números pares e ímpares (4 pares — 2, 4, 6, 8; e 4 ímpares — 3, 5, 7, 9), e par ou ímpar são os elementos definidores de um número, de tal maneira que a tetráktys da década contém num só número os divisíveis e os indivisíveis em mesma quantidade ou em harmonia; 3. contém todas as figuras: o 1 é o ponto, o 2 é a linha, o 3 é o triângulo, o 4 o quadrado, etc.. A perfeição da tetráktys da década fez com que fosse tomada como critério de todas as operações matemáticas, dando origem ao que viríamos a conhecer com o nome de “sistema decimal”.
PITÁGORAS DE SAMOS (PARTE III)
A Úsij está presente em todas as coisas, tanto as visíveis quanto as invisíveis: assim, a unidade é a inteligência, pois é sempre idêntica a si mesma; a díada é a opinião, pois sempre dividida entre dois; a tríada é a justiça, pois é a síntese da unidade e da díada, isto é, da identidade e da divisão, uma vez que resulta da soma dos dois primeiros números. E assim por diante. Dizer que a Úsij e a ¢rc» são o número é dizer que as coisas são ritmos, proporções, relações, somas, subtrações, combinações e dissociações ordenadas e reguladas. Em outras palavras, o número não representa nem simboliza as coisas, ele é a estrutura das coisas. Ou, como dirá Galileu ao criar a física moderna, só conheceremos a natureza se conhecermos sua estrutura matemática.
De acordo com Aristóteles e Estobeu, os pitagóricos (e, mais precisamente, Filolau de Crotona) conceberam o Um, ou a unidade primordial, a partir da distinção entre ilimitado e limitado, ou entre indeterminado e determinado, isto é, entre o indivisível e o que pode ser indefinidamente dividido. Essa distinção aparece com a diferença entre o ímpar (limitado, determinado, indivisível) e o par (ilimitado, indeterminado, divisível), que são os elementos constitutivos de todos os números, e, por isso mesmo, o Um, fonte dos números, é, em si mesmo, par-ímpar, ilimitado-limitado. O Um ou a unidade é, portanto, a totalidade dos números e, por isso mesmo, a totalidade das coisas visíveis e invisíveis. A unidade é o princípio da permanência ou da identidade de uma coisa e a dualidade é o princípio de sua mudança, de seu devir ou vir a ser.
Dessa maneira, o kÒsmoj é a proporção regulada de pares de opostos, ou a concordância dos discordantes: altobaixo, direita-esquerda, macho-fêmea, movimento repouso, quente-frio, seco-úmido, luz-treva, doce-amargo, bom-mau, justo-injusto, verdadeiro-falso, grande pequeno, novo-velho, reto-curvo. O princípio desses pares é a oposição fundamental entre limitado e ilimitado, ou
entre unidade e multiplicidade. Alguns testemunhos doxográficos também atribuem a Alcmeão e a Filolau uma teoria do conhecimento, isto é, uma teoria da alma humana como capaz de conhecer a estrutura numérica do mundo. O número seria o princípio do conhecimento porque ordena e organiza a realidade ao engendrar as coisas como unidade e diversidade de proporções inteligíveis, pois não devemos esquecer que, em grego, proporção se diz lÒgoj (e, em latim, se diz ratio, razão). O número, segundo Filolau, torna as coisas discerníveis umas com relação às outras, as torna conhecíveis, ou, em sua linguagem própria, “torna as coisas concordantes com a alma”, concórdia ou proporção que decorre do fato de que a alma também é número. Ou, na liguagem de Filolau, as coisas e a alma são comensuráveis (proporcionais) porque possuem a mesma medida comum ou o mesmo lÒgoj, pois são feitas da mesma Úsij. Conhecer é encontrar a unidade de alguma coisa e o princípio de sua mudança ou de seu devir. O número é o que produz a unidade e a diversidade das coisas e por isso as torna conhecíveis por nossa alma. Eis por que o ideal contemplativo ou teórico do pitagorismo se realiza plenamente com uma cosmologia matemática. A matematização do universo concebida pelos pitagóricos lhes permitiu explicar a origem de todas as coisas por um processo regulado e inteligível de delimitações do uno primordial ilimitado segundo proporções que diferenciam os opostos e os dispõem numa ordem racional. Dessa maneira, o pitagorismo pôde
introduzir com todo o rigor a idéia de ordem ou de kÒsmoj porque determinou o operador da ordenação — o número —, a forma da ordenação — proporção — e o efeito da ordenação — concordância e harmonia dos contrários governados pelas mesmas leis racionais.
No entanto, o pitagorismo passará por uma crise profunda que levará ao desaparecimento de sua Escola, ainda que não ao de seus ensinamentos principais, que seriam retomados, dois séculos depois, por Platão. Essa crise os dividiu em dois grandes grupos: os acústicos ou acusmáticos, de um lado, e os matemáticos, de outro. Acusmáticos foram os que conservaram apenas os ensinamentos orais (ou aprendidos por ouvido) de caráter místico e moral da Escola, realizando exercícios espirituais silenciosos de purificação da alma, ao som da lira órfica. Matemáticos foram aqueles que tentaram dar prosseguimento à doutrina cosmológica e à geometria, após a crise. Que crise foi essa? O aparecimento de um teorema que, justamente, leva o nome de Pitágoras: “num triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa”. Do ponto de vista geométrico, a demonstração do teorema é clara e perfeita: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Há, portanto, proporção entre os catetos e a hipotenusa.

O que é conhecer

1 O que é conhecer?
De modo simples, pode-se dizer que "conhecer é elaborar um modelo de realidade" e "projetar ordem onde havia caos" Nesse sentido, três elementos são necessários para que haja conhecimento:
a) O sujeito, que é o ser que conhece;
b) O objeto, aquilo que o sujeito investiga para conhecer;
c) A imagem mental em forma de opinião, idéia ou conceito que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a subjetividade daquele que conhece.
Nesse processo, dado que o humano é pensante-sentinte-comunicante, ele articula sentimentos e pensamentos e os transmite por meio da linguagem simbólica, a qual o diferencia dos demais seres existentes. Essa linguagem pode ser oral ou escrita, verbal ou não-verbal.
Falar, escrever e gesticular seriam maneiras elementares de o sujeito humano produzir e veicular informações, conhecimentos e saberes. As informações ele as registra em suportes materiais palpáveis. O conhecimento ele o apreende em sua subjetividade, de maneira dinâmica para sempre ser reelaborado. O saber são aquelas informações e aqueles conhecimentos que ele, humano, mobiliza para relacionar-se com o mundo, interagir com os semelhantes, com a sociedade, com o universo e com a vida (CHARLOT, 2000).
Por meio da relação sujeito-objeto, da qual resultam informações, conhecimentos e saberes, o humano cognoscente busca compreender, representar e explicar os objetos com os quais convive em sua vida prática e até aqueles que ele imagina possam existir como idéia formal apenas . A isso chamamos conhecimento, esse produto da inteligência simbólica humana por meio da qual o múltiplo ganha uma unicidade, a diversidade recebe certa harmonia e o vazio e preenchido por um sentido, sendo o principal deles o sentido existencial, a razão de ser da vida, o motivo pelo qual o homem e a mulher são, pensam, sentem, julgam, valoram, decidem e agem no aqui-agora de seu ser-estar no mundo.
2 Conhecer e pensar
Decididamente, pode-se dizer que os humanos se diferenciam do animal que não possui inteligência simbólica pela capacidade que o homem e a mulher têm de pensar e,ao fazê-lo, problematizar o seu entorno físico e cultural.
Entorno físico identifica-se com a natureza natural. O entorno cultural refere-se a tudo que o humano produz ao ser, estar e agir no mundo. Enquanto o humano interfere naquela realidade natural e a modifica, os outros animais apenas são predominantemente adaptativos ao ambiente em que se encontram.
Um exemplo que ilustra com simplicidade essa constatação é o caso do João-de-barro, o passarinho que, desde que existe na face da Terra, constrói a mesma moradia. Você já viu a casa do joão-de-barro. Se viu, notou que, aquilo que nele, aparentemente, resulta de uma inteligência simbólica, é, na verdade, produto de uma programação instintiva, da qual o joão-de-barro não foge e à qual ele obedece às cegas.
O humano começou morando em cavernas. Mas, ao contrário do joão-de-barro, fez choças e cabanas. Passos à frente o levaram a fazer casas de madeira, tijolos e cimento. Atualmente, ele utiliza estruturas sofisticadíssimas para construir todo tipo de moradia: edifícios altíssimos e casas que tentam ser à prova de terremotos e furacões.
Por que o humano progrediu e o joão-de-barro, não? Uma pista para respondermos essa pergunta é o fato de que o homem e a mulher, à medida que iam explorando seu objeto, a casa, eles também iam pensando sobre ele e problematizando a arte de fazer casa, coisa que o joão-de-barro, até onde sabemos, não dá conta de realizar.
Conclusão: pensar, sentir, problematizar e agir são ações importantíssimas no processo de produzir informações, conhecimentos e saberes.
3 Os diversos tipos de conhecimento e saberes
É a inteligência simbólica, diferente de uma programação instintiva, que possibilita ao ser humano pensar, sentir, problematizar e agir, dando-lhe a possibilidade de produzir uma gama variada de conhecimento.
a) O saber da vida
Esse tipo de saber baseia-se na vivência espontânea da vida e começa a ser construído tão logo o homem seja lançado no mundo. Ele vive esse processo até o dia de sua morte. Por isso, tudo o que diz respeito à condução da vida na terra pode se tornar objeto a ser "explorado" e representado nesse nível de conhecimento da realidade.
As características desse tipo de saber compreendem a não-sistematicidade, razão pela qual ele não é produzido com base em procedimentos metodológicos, feitos para conduzir a relação sujeito-objeto. O que resulta dessa relação com o mundo é um saber que muitos chamam saber empírico, vulgar ou, ainda, senso comum.
b) O conhecimento mítico
Trata-se de uma modalidade de conhecimento baseado na intuição e que deriva do entendimento de que existem modelos naturais e sobrenaturais dos quais brota o sentido de tudo o que existe. É um tipo de conhecimento que ajuda o ser humano a "explicar" o mundo por meio de representações que não são logicamente raciocinadas, nem resultantes de experimentações científicas.
O conhecimento mítico é "expresso por meio de linguagem simbólica e imaginária" (CYRINO & PENHA, 1992, p. 14). Assim, ainda que o conhecimento mítico crie representações para atribuir um sentido às coisas, ele ainda se baseia na crença de que seres fantásticos e suas histórias sobrenaturais é que são os responsáveis pela razão de ser do existente.
C) Conhecimento teológico
Se o saber da vida se baseia na experiência de vida e é espontâneo, e se o conhecimento mítico fundamenta-se na crença em seres fantásticos e é elaborado fora da lógica racional, o saber teológico fundamenta-se na fé. É dedutivo por partir de uma realidade universal para representar e atribuir sentido a realidades particulares.
Desse modo, o conhecimento teológico parte da compreensão e da aceitação da existência de um Deus ou de deuses, os quais constituem a razão de ser de todas as coisas. Esses seres "revelam-se" aos humanos. Dão ao homem e à mulher as suas verdades, as quais se caracterizam por ser indiscutíveis, inquestionáveis. Se assim são, a razão não precisa compreender esses dogmas, mas aceitá-los. É esse processo que o conhecimento teológico investiga e tenta explicar.
d) Conhecimento filosófico
O conhecimento filosófico é racional. Baseia-se na especulação em torno do real, tendo como objeto a busca da verdade. Por isso, diz-se que é uma atitude. Ele é sistemático, mas não experimental. Vai à raiz das coisas e é produzido segundo o rigor lógico que a razão exige de um conhecimento que se quer buscando a verdade do existente.
Nessa busca, o conhecimento filosófico busca os "porquês" de tudo o que existe. É ativo, pois coloca o humano em busca de respostas para as inúmeras perguntas que ele próprio pode formular. Exemplos: Quem é o homem? De onde ele veio? Para onde ele vai? Qual é o valor da vida humana? O que é o tempo? O que é o sentido da vida?
e) Conhecimento científico
Semelhantemente ao conhecimento filosófico, o saber científico também é racional e é produzido mediante a investigação da realidade, seja por meio de experimentos seja por meio da busca do entendimento lógico de fatos, fenômenos, relações, coisas, seres e acontecimentos que ocorrem na realidade cósmica, humana e natural.
Trata-se de um conhecimento que é sistemático, metódico e que não é realizado de maneira espontânea, intuitiva, baseada na fé ou simplesmente na lógica racional. Ele prevê, ainda, experimentação, validação e comprovação daquilo a que chega a título de representação do real. Mediante as leis a que chega, o conhecimento científico possibilita ao ser humano elaborar instrumentos os quais são utilizados para intervir na realidade e transformá-la para melhor ou para pior.
f) Conhecimento técnico
O fundamento básico desse tipo de conhecimento é o saber fazer, a operacionalização. Tem como objeto o domínio do mundo e da natureza. É especializado e específico e se esmera na aplicação de todos os outros saberes que lhe podem ser úteis.
Trata-se de um tipo de saber que auxilia o homem e a mulher a agirem no mundo, levando-os às mais diversas atividades visando à produção técnica da vida. A supervalorização da técnica pode levar a um ativismo que coloque em segundo plano as atividades de pensar e de compreender os "porquês" das coisas, razão pela qual o emprego da tecnologia requer prudência e bom senso.
g) O saber das artes
As artes e os saberes que elas possibilitam valorizam os sentimentos, a emoção e a intuição racio-sentimental humana. Se o saber da vida busca ordem para preencher o vazio de sentido do caos; se o conhecimento mítico busca na crença a razão de ser de todas as coisas; se a teologia fundamenta-se na idéia de deuses para buscar as verdades acabadas a serem observadas pelo ser humano; se a filosofia busca as representações racionais da realidade; se a ciência busca conhecer de maneira comprovada e segura; se a técnica busca aplicar conhecimentos... o saber das artes busca o belo.
Nesse sentido, o saber das artes valoriza as experiências estéticas do humano, proporcionando-lhe o refinamento do espírito ao oferecer-lhe a relação com senso do gosto, do belo e do grotesco. Experimentar o belo e extrair dele a matéria fundamenta para o refinamento de si mesmo é a finalidade maior de tudo aquilo que se produz em termos de artes e sem as quais o ser humano se vê empobrecido e pequeneficado.
4 Conclusão
Como se vê, o ser humano é capaz de produzir diversos tipos de informações, conhecimentos e saberes. E disso ele é capaz porque pensa, problematiza, raciocina, julga, avalia, decide e age no mundo. O humano é interacional. É relacional e é em meio às múltiplas relações que vivencia no mundo que ele pode construir representações deste mundo.
Nesse sentido, um tipo de conhecimento não é melhor que o outro. Eles devem ser vistos numa perspectiva de complementaridade, interdisciplinaridade e até de transdisciplinaridade. Ou os seres humanos não precisam deles para se compreender e viver?

A Metafisica de Aristóteles


Problemas Metafísicos
(Resumos)
Prof. João Hobuss
Aristóteles – Metafísica

- É difícil especificar do que trata. A princípio apresenta quatro objetos de estudo:
1. Livro A (alpha) I – Estuda, investiga os primeiros princípios e as primeiras causas. Aitiologia – aitio (causas) causa material, causa formal, causa eficiente e causa formal.
- PNC – princípio de não contradição. Ex: propriedades essenciais como o homem é um animal bípede.
- PTE – princípio do terceiro excluído. Pode dizer sobre algo (X) é V ou F uma terceira possibilidade está excluída.
2. Livro (gama) IV – Estará preocupado com o estudo do ser enquanto ser. Ser qua ser, na medida em que é ser. Essência, devo perguntar qual a essência que faz do ser um ser. Ontologia – onto (ser).
3. Livro (zeta) VII – Estudo da substância (ousia), Metafísica e Ousiologia.
4. Livro (lambda) XII – Investiga o primeiro motor imóvel – Deus. A metafísica aqui é uma teologia.
O grande problema – buscar a unidade do ponto de vista da obra, no sentido de estabelecer um todo coerente. (G.E.L. Owen – Focal Meaning).
Aitiologia – A filosofia é a ciência de certas causas e de certos princípios (982ª,ss).
Ontologia – Há uma ciência (disciplina) que estuda “o ser enquanto ser” e os atributos que lhe pertencem em função de sua própria natureza. (1003ª21,ss).
Ousiologia – Livros VII (Z) e VIII (H). tem por objetivo a substância.
Teologia – A ciência primeira versa sobre os entes separados e imóveis (...). Por conseguinte, haverá três filosofias especulativas. A matemática, a física e a teologia (...), e é preciso que a mais valiosa se ocupe do gênero mais valioso. Assim, pois, as especulativas são mais nobres que as outras ciências, e esta (a teologia), mais nobre que as (outras) especulativas. (1026ª16,ss).
Para o estudo e compreensão da obra “Metafísica” de Aristóteles, é necessário e fundamental que se conheça outra obra chamada “Organon”, onde trata da Lógica.
O livro I trata das categorias (ta onta), investigação sobre as coisas que são (os seres, os entes).
As Categorias
Substância – ser primeiro (homem, cavalo).
Qualidade – preto, branco, professor.
Quantidade – 2kg, 2Mt. 2km.
Relação – o dobro, a metade.
Lugar – na universidade.
Tempo – há dois meses, há dois anos.
Posição – de pé, sentado.
Ter – ter dois livros.
Agir – cortar.
Ser afetado – ser cortado.
A substância tem posição privilegiada no que se refere (concerne) as outras categorias, tem uma prioridade em relação às outras categorias. Esta prioridade é Ontológica, Epistemológica e Lógica.
Todas as outras categorias dependem da substâncias. Ex: a qualidade é uma qualidade de uma substância. Não posso atribuir uma qualidade a algo que não seja uma substância. A qualidade deve a sua existência a substância.
Cada uma delas existe “num sujeito”, não podem existir separadamente. Ex: Branco (não tem sentido sozinho). Só tem sentido se X realmente for branco.
Temos então duas relações:
Relação entre as categorias (existir, estar num sujeito).
Uma relação entre itens no interior de uma mesma categoria (ser dito de um sujeito).
Vai de algo mais geral a algo menos geral no interior de uma categoria:
- Homem “é dito” de um homem particular. (ex: Manoel é homem).
- Animal “é dito” de homem. (ex: Homem é um animal).
- Animal “é dito” de um homem particular. (ex: Manoel é um animal).
Relação de Transitividade
- Gênero (animal) “é dito” da espécie “Homem”. Funciona da mesma forma nas categorias “não substanciais”.
- Na qualidade (categoria) – Gênero (cor) é dito da...
- Espécie (branco)
- Contraste – Num sujeito, com dito de um sujeito.
A – Relação – Predicado essencial
Predicado acidental
B – Relação - Universal é dito de muitas coisas.
Particular somente refere-se a uma.
Embora não apareçam nas categorias uma hierarquia entre universal e particular.
- Substância - Animal
Homem Cavalo
Este Homem Este Cavalo
Indivíduos
Papel central no esquema
Substância Primeira – os indivíduos são as substâncias primeiras, sem estes nada existiria. São elas as entidades básicas, são as coisas que são.
.................é homem . Não há sujeito, portanto, nada existe. O predicado dito de nada, não tem sentido.
Tudo que não é substância primeira, está no sujeito ou é dito dele (de um sujeito). As substâncias segundas: ex: Um gênero (animal) é dito de uma espécie (homem). Gênero e Espécie são substâncias segundas. Categoria da substância: tudo que não é substância primeira é dito desta.
Se não houvessem substâncias primeiras, não existiriam substâncias segundas.
Ocorre também nas outras categorias.
Ex: O universal numa categoria não substancial. Por exemplo a Cor na Qualidade, é de um corpo.
Metafísica – ta meta ta phusika – obra das mais tardias de Aristóteles, não foi escrita de uma única vez. Possui 14 livros, não são obras acabadas, somente se constituem como obra após a morte de Aristóteles, editadas por Andrônico de Rhodes no século I a.c.
Metafísica é o estudo de todas as coisas apenas na medida em que estas coisas são: “Seres”, enquanto são!!! O estudo da metafísica vem naturalmente após o estudo do movimento das coisas materiais, por isso é coerente com a intensão de Aristóteles (me phusika). Isto tem a ver com a percepção e a experiência, também caracterizando a física.
- O que os 14 livros da metafísica têm em comum? O que justifica a obra em sua completude? Qual é a pertinência em serem colocados todos em uma única obra?
- O ponto central da metafísica, garante a unidade da investigação. Investigação de todas as coisas na medida em que são seres. Seres: são as coisas que são, são as coisas que existem. Era chamada (a metafísica) por Aristóteles de a “filosofia primeira” (protê philosophia). Ciência primeira (protê epistêmê). Diz respeito a sabedoria – Sophia.
- A metafísica diz respeito a questão “o que é o ser?”
- Dois modos:
1 – ela levanta a questão, faz uma longa pesquisa em busca de uma resposta, e eventualmente oferece uma resposta.
2 – ela reflete sobre a questão em si mesma, busca saber se é possível uma resposta a tal questão.
- Busca saber como a metafísica é possível. Não é saber sobre o substantivo ou sobre o verbo “ser”, mas é como perguntar para algo “o que é, para alguma coisa “ser”?”. O que é o ser? O que é para algo ser? Preocupa-se com os seres, coisas que são (ta onta). Nós perguntamos para alguma coisa, o que é para ela ser.
- Seres são familiares para nós, portanto levantamos a questão, o que é para algo ser? São presentes em nós e aparentes para nós. São pré-filosóficos, a partir de nossa experiência originária.
- Seres nos rodeiam e constituem o mundo (são familiares para nós). O que é, para algo, ser? Seres são: humanos, plantas, animais, o sol, a lua e as plantas (movimento, tempo e espaço). Universo inteiro é constituído de seres.
- Quando perguntamos o que é para algo, ser, podemos inclusive perguntar do que não são diretamente para nós. Coisas que não são familiares. Esta pergunta tem de ser entendida de modo particular. Não é perguntar “o que há”? (que seria meramente descritivo).
- Busca uma explanação de porque alguma coisa é, e sua causa, de porque a coisa é. É uma pergunta sobre a essência do ser. Exposição sobre a essência do ser. (ponto central). Diz ai que a metafísica é a disciplina que vai investigar o - ser qua ser - “ser enquanto ser”. É o estudo do ser enquanto ser, na medida em que é coisa que é, é estudar sobre a essência de algo, ao ser.
“A metafísica não é tanto a pesquisa por uma descrição completa e geral do que há, é sobretudo a investigação por uma explanação do porque alguma coisa que é, é. Ou em virtude do que alguma coisa que é, é.
A metafísica I – 2 – Busca as primeiras causas e os primeiros princípios. Ciência primeira tentativa de responder estas questões, objeto da metafísica, obra da ciência geral.
Investigação pelas causas, pelo conhecimento sensível. Queremos saber o porque as coisas são. Metafísica pressupõe um conhecimento científico, pelas causas sabemos o porque das coisas (a sua existência) de todas as coisas.
A metafísica é a principal disciplina – central e fundamental. É investigação das primeiras causas (prôtai aitia), primeiros princípios (prôtai arché) investigação sobre todas as coisas. Busca as causas de todas as coisas. Pergunta “o que é para alguma coisa, ser?”.
Associação entre uma investigação sobre a resposta, investigação baseada no conhecimento científico.
Busca desvelar o que as coisas são. A investigação do porque as coisas são. Há que se diferenciar as questões para não confundí-las:
A- Porque são os seres (ta onta) coisas que são F ?
B- Porque há seres, coisas que são F.F ?
- Metafísica, o que é para algo, ser? Relaciona-se com a B, pois busca expressar o que F é.
O que é ser? Não é uma investigação Aristotélica, o próprio autor revela que é uma questão tão velha quanto as árvores. “De fato, aquilo o qual é sempre, agora e longo tempo atrás, procurando, e a qual é sempre uma fonte de perplexidade é a questão “o que é o ser?” (VII A 1028b 2-4). Tales, Anaximandro, Empédocles, Anaxágoras, Pitágoras e Platão.
Porque Aristóteles pensa, que possamos perguntar: “o que é o ser?”. Por que somos humanos, desejamos conhecer (percepção=aesthesis). Possuir um conhecimento das causas é possuir um conhecimento científico, é chegar a essência do que algo é. É o conhecimento da essência do ser.
Responder: “o que é o ser?” é uma aporia, questão que nos deixa perplexos, nos coloca um problema. De onde surge? Do conhecimento ordinário. Pensamos e dizemos o que algo é, ou que ele não é. Pré-filosófico – conhecimento filosófico leva a considerações universais, se as coisas são Materiais ou imatérias.
Concepções Modernas
- Se a metafísica é possível, esta baseada em algo exterior. Lógico. Epistemológico. Aqui a fonte da metafísica está além da própria meta física.
Concepção Aristotélica
- A fonte da metafísica, ou de sua impossibilidade, está na própria metafísica. Questão fundamental: “O que é, para algo, ser?”. Está enraizada em certas aporias centrais.
Três Aporias Centrais
uma forma de aporia é associada com a questão de como coisas podem ter propriedades e em geral, como algumas coisas podem ser verdades de alguma coisa.
Uma forma adicional de aporia metafísica, é associada com a questão de como as coisas podem ser inteligíveis e sujeitas de explanação.
Uma outra forma de aporia é associada a questão de como as coisas podem mudar de tal modo que podem estar sujeitas a explanação.(causas)
Física- (Hilemorfismo) traz um problema para teoria aristotélica de substancia. Falta (o composto) , saber se há um prosseguimento da teoria substancial nas categorias.
Ousia- Ou é Matéria ou é Forma.
Substancias primeiras- sujeitos/ indivíduos : são compostos de matéria e forma.
Nas categorias são chamadas de entidades básicas: - não podem ser ditas de. - não podem estar no sujeito.
As substancias 1º são condições de existências de todas as outras categorias. Estas devem suas existência as substancias primeiras.
Aristóteles- silenciou sobre o problema da estrutura da matéria ( desafio para a doutrina de substancia presentes nas categorias) de Sócrates.
Física- Sócrates é um composto hilemórfico (forma e matéria)
Filósofos Naturais-eliminativismo- Demócrito – entidades básicas( átomos e vazio);
Aristóteles rejeita a teoria de Demócrito pois acredita que o espaço é contínuo.
Aristóteles aceita que Sócrates é feito de partes, não de átomos, ele é composto por uma coleção de partes Y.
Não é o caso de Sócrates esta em Y? Essa coleção de partes é Sócrates. Sócrates não existe sem suas partes, então Sócrates esta em.
Com esse tipo de raciocínio, a substancia nas categorias não passa no teste de substancialidade, se levarmos em conta a estrutura interna do sujeito.
Assim: Y é Sócrates
Ele esta em Partes
Sócrates está na matéria
Logo: É dito DE
Esta Em
Aqui constatamos a falha nas categorias, o indivíduo não pode ser considerado substancia.
Então como consequência do hilemorfismo temos como candidato à substancia; Matéria, Forma e Composto.
141a 14-20 Física
“ Se a forma(eidos) ou a substancia, são substancia(ousia), não esta ainda claro”.
- De Amina” ( da alma) 412a 6-9 “ Nós expressamos bem um gênero particular de realidade falando da substancia, mas esta se entende aqui, seja como matéria( coisa que por si não constitui uma realidade singular) seja como forma( em virtude, do que precisamente se pode falar de uma realidade singular) seja em terceiro lugar como composto das duas.

O Ego Transcendental Como Ponto de Partida Para O Conhecimento

Acadêmica: Fabiane weber

Resumo
Husserl. O filósofo Edumund Husserl ( 1859-1938), matemático e lógico, professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, autor de Die Idee der Phänomenologie (A ideia da Fenomenologia - 1906) enfrenta o Psicologismo e o Historicismo, e funda a Fenomenologia; Husserl foi um dos mais celebres filósofos do seculo XX, o Filósofo alemão direcionou se trabalho para o estudo dos fenômenos, fez duras críticas ao psicologismo. Que nessa época, sustentava que a teoria do conhecimento e a lógica deveriam ser estudadas como disciplinas da Psicologia. Foi exatamente a esse tipo de argumentação que Husserl se posicionou contrario, pois acreditava que ambas são parte importante da filosofia e dependentes da consciência humana, não poderiam ser situadas no campo das ciências empíricas.
A Filosofia Fenomenológica de Husserl
Fenomenologia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos, explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação"1. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (Noésis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). A Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica
Durante todo seu esforço fenomenológico Husserl deixou explicito, que a força central do seu pensamento era proveniente das “meditações” Cartesianas,2 Husserl exaltava a importância da filosofia cartesiana pois acreditava que a filosofia do filósofo francês abriu uma nova fase do pensar humano. O “voltar-se para si”3 desenvolvido por Descartes como uma necessidade para o auto-conhecimento e consequentemente para conhecer o mundo, também serviu de base para o pensamento Husserliano. Para Husserl podemos duvidar de qualquer valor das ciências existentes, pode-se questionar sua exatidão, seu método, mas nada pode nos impedir de vivenciar as tendências e atividades cientificas e de extrairmos delas nossas próprias experiências e opiniões sobre o objeto que buscamos.
Na Fenomenologia Husserl busca um ponto de partida para o conhecimento, ou seja, um principio que serviria de base ao seu pensamento e ao seu propósito, alcançar a essência das coisas. Esse ponto de partida e a intencionalidade da consciência, entendida aqui como atividade do conhecimento, que segundo o Filósofo alemão jamais poderia ser situado na campo dos fatos empíricos. daí a critica ao psicologismo.
Dizer que a consciência é intencional é o mesmo que dizer: que quando conceituamos algo, estamos nos referindo a ideia de alguma coisa. Essa intencionalidade é a essência da consciência, e é representada pelo significado, ou nome pelo qual a consciência se dirige a cada objeto. João Paisana comenta em seu livro4 que a dificuldade em afirmar essa intencionalidade é saber até que ponto a consciência, as vivências cognitivas, não se encontram encerradas em si. Assim como é possível atingir o que as transcendem oque está para além delas mesmas. Segundo o próprio autor, é justamente a través do caráter intencional da consciência que Husserl pretende resolver a referida dificuldade.
Como vimos anteriormente, ao afirmar a intencionalidade Husserl, quer dizer que toda a consciência é consciência de alguma coisa.5 significa dizer que toda as vivências da consciência, seja ela uma recordação, uma imagem, uma percepção, todas estas como um ato possuem um sentido, por isso não se encerram em si.
Então deste modo é possível dizer que as vivências são atos intencionais da consciência, desta forma não são elementos concretos, reais, mas ideais. João Paisana ao se referir a intencionalidade husserliana comenta:
A intencionalidade pode determinar o sentido ou a intenção significativa da vivencia intencional. Mas não pode por si só, Formular a validade do conhecimento. 6
Deste modo João Paisana faz uma diferenciação quanto ao caráter intencional da consciência, pois segundo este, o ato só poder ser considerado intencional, quando o objeto visado esta presente de modo imediato. Por que dessa forma podemos extrair deles um conhecimento verdadeiro, do contrário quando recordamos ou imaginamos algum objeto não podemos extrair deles mais nada, do que meras sensações.
Já segundo Husserl, na evidência esta explícito a experiência de um ser e o seu modo de ser, nela á coisa ou o fato não é somente vista de maneira distante e inadequada, ela esta presente diante de nós, o sujeito que julga tem dela uma consciência imanem.7
Como vimos Husserl identifica as evidencias ou vivências como fenômenos, este defende que o estudo da realidade deve ser feitos a partir desses fenômenos, daí a existência do Lebenswelt, o mundo da vida. O mundo que cerca o Homem, mas o que vem a ser esses fenômenos que cerca e influência a vida do Homem?
Pode-se inferir do pensamento Husserliano que esses fenômenos são um produto final de um processo de conhecimento noético-noemático, onde Noésis é o ato de perceber o mundo e Noema é a resposta do mundo percebido,ou seja é o correlato do ato de perceber, que se encontra na primeira redução fenomenológica ou Epochê8 encontra-se na Redução Eidética.9 nela é possível encontrar a essência das coisas, o significado ideal dos objetos empíricos
Notamos então que há separação do sujeito-objeto na concepção husserliana sujeito é um ser capaz de atos de consciência como perceber, julgar, imaginar e recordar, já os objetos são o que se manifesta nesses atos.
Então o nosso conhecimento começa com a experiencia de coisas existentes nos fatos, onde os fatos são visto como algo contingente, isto é, pode ser ou não ser. Nos fatos sempre se capta uma essência , segundo Husserl, essa essência são as formas, maneiras ou modos como esses fenômenos se apresentam à nós. Esse conhecimento das essências só é possível através da intuição eidética10, ou seja, A intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido, é o modo de apreender a essência, então esse conhecimento não é imediato, obtido através de abstrações ou comparações de diversos fatos, mas para isso é preciso já ter captado uma essência ou algo, um aspecto pelo qual eles sejam semelhantes, é isso que Husserl chama de intuição.
Na verdade o que vai importa na fenomenologia não é o objeto em si, mas o aparecer destes objetos, pois é através deles, os noemas como se refere Husserl, que são as formas de perceber o mundo que o Homem vai conhecer a realidade.
Mas tudo isso só é possível, graças á segunda redução fenomenologia, á redução transcendental, que na verdade deveria ser considerada a primeira, pois assim como Descartes fez na segunda meditação cartesiana, Husserl o faz aqui, coloca todo o conhecimento cientifico, todo o conhecimento de mundo que possui sob suspeita.
Duvida de suas convicções de tudo que acretiva até então, para poder chegar em um fundamento único que seja apodítico, ou seja necessário. Que jamais será e poderá ser posto á dúvida.. é nesse processo de questionamento, nesse voltar-se para -si que o homem alcança o ego puro, e transcende ao verdadeiro conhecimento.
Então podemos dizer que o ego transcendental é o ponto de partida para o conhecimento, pois a partir deste, o homem descobre a intencionalidade da consciência, difere a realidade do ideal, descobre os vários mundos que o circunda, como se refere Husserl ao falar do Lebenswelt, ou ainda do mundo da vida.
Para Husserl a vida é a própria consciência que o sujeito possui de si mesmo, dos objetos e do mundo que o cerca. O que ele quer dizer com isso, é que somos parte de um todo, de um sistema, que a nossa subjetividade compõe o mundo que nos cerca.
Husserl quer afirmar que não precisamos do conhecimento científico para explicar e saber como realmente é a realidade, ou os vários mundos que estamos inseridos, sejam com relação aos objetos, as coisas ou aos próprios seres humanos. Por isso afirma essa dualidade de conhecimento, essa troca de informações que ocorre no processo noético-noemático quando percebemos alguma coisa. Quando tentamos de alguma forma expressar a realidade, ou ainda a verdade dos objetos e do próprio mundo.
O ego puro então é a condição de possibilidade do conhecimento, o homem só conhece a verdadeira essência das coisas na redução fenomenologia aplicada ao próprio sujeito. Ou seja pondo entre parenteses tudo aquilo que acreditava e aceitando como certo e indubitável alguns pressupostos.
Jovino Pizzi em seu livro “ o Mundo da Vida” relata que com a categoria do mundo da vida:
Husserl evidencia que o sujeito enquanto tal, tem um mundo ao seu redor e a ele pertence -como os demais seres vivos-não necessitando a recorrer a ciência experimental para afirmar a certeza disso. Não se trata portanto do mundo na atitude natural , na qual os interesses teóricos e práticos são dirigidos a entes (ou fenômenos) do mundo, mas é o mundo histórico cultural concreto, das vivências cotidianas com seus usos e costumes, saberes e valores, ante as quais se encontram a imagem do mundo elaborado pela ciência.11
Com isso podemos entender melhor o que Husserl queria dizer quando afirmava a intencionalidade da consciência, queria dizer que, o que importava, para ele, era o que se passava na experiência de consciência, através de uma descrição precisa do fenômeno.
Assim analisando primeiro o valor das idéias, interpretando cada essência, de cada objeto que nos cerca, analisando o mundo que estamos inseridos, e só depois disso passamos ao estudo de uma realidade transcendental, ao apogeu do “Eu Puro”. Transcendendo para além da ciência mas sem perder a racionalidade. Com respeito a isso diz Husserl:
O Mundo objetivo, que existe para mim, que existiu ou existira para mim, esse mundo objetivo com todos os seus objetos encontra em mim mesmo, como disse acima, todo o sentido e todo o valor existencial que tem para mim; ele os encontra no meu eu transcendental, que só revela a εποχη fenomenológica transcendental..12
O que Filosofo Alemão quis dizer é que não podemos pensar o mundo evidente existente, sem partir das nossas próprias evidencias e atos.
Considerações Finais
Portanto como vimos o método fenomenológico de Husserl não é empírico nem dedutivo, apenas tem a finalidade de mostrar o que as “coisas” ou os fenômenos são e como são. Como Husserl propõe essa fundamentação, ele o faz através da Fenomenologia transcendental, ou seja alcançando um argumento ou uma base forte e segura livre de pressuposições.
Isto se dá, mediante a Epochê, perguntando pelo verdadeiro sentido das coisas e da própria vida, o Homem reencontrará no mundo da vida a resposta para sua inquietude, conhecer a essência do conhecimento.
Deste modo a fenomenologia se converte na ciência da essência das vivências puras. A realidade inteira aparece como uma corrente das vivências concebidas como atos puros. Ou seja o Lebenswelt que nada mais é que o mundo histórico cultural em que o sujeito esta inserido, é depois de ser posto a prova, o mundo transcendente onde o “eu “ puro encontra sua plenitude.
Bibliografia
Pizzi, Jovino o Mundo da Vida: Husserl e Habermas/Jovino Pizzi; prof Ricardo Sallas Astrim -I jui;Ed, Unijui .2006-184p.-(coleção Filosofia;11)
Paisana, João Husserl e a idéia de Europa; João Paisana e Edições Contraponto, março de 1997.
Realle Giovani História da Filosofia: Do romantismo até os nossos dias; Giovani Reale, Dario Antisere;São Paulo:Paulus,1991-(coleção Filosofia).
Husserl, Edmund Meditações Cartesianas; São Paulo: Editora Martins Fontes,2001
1Toda e qualquer significado que uma única palavra pode nos remeter, dependendo das várias formas que pensamos ou imaginamos esta.
2Renê Descartes Celebre Filósofo Francês, considerado por muitos como o responsável por uma profunda revolução no pensamento Filosófico. Com uma Filosofia voltada para o sujeito, descartes utilizava ao método da duvida para chegar ao conhecimento.
3“ voltar-si para si” em descartes significava um momento de introspecção, era como colocar o mundo e todo o conhecimento cientifico sob questionamento.”
4Husserl e a Idéia de Europa Pg 35
5João Paisana “Husserl e a idéia de Europa”
6João Paisana Husserl e a idéia de Europa Pg 38
7Husserl,Edmund Meditações cartesianas. São Paulo. Editora Martins Fontes, 2001
8Epochê é colocar entre parenteses o mundo tomado materialmente, é a ausência de Juízo em relação ao mundo.
9Eidética tem origem na termo grego Eidos que quer dizer idéia, ou estrutura do objeto.
10(...)Intuição eidética é um conhecimento distinto do conhecimento dos fatos, pois os fatos particulares são casos ou ocorrências de essências eidéticas(...) Giovani Reale História da Filosofia- do romantismo até os nossos dias, Pag 560.
11Trecho extraído da obra “ o mundo da vida”, Pag 63 do professor Jovino Pizzi Jornalista e Doutor em Filosofia pela Universidade de Jameu I (Espanha), pesquisador CNPq e Professor da Universidade Católica de Pelotas.
12Husserl, Edmund Meditações Cartesianos, São Paulo, editora Martins Fontes,2001

Platão
Justiça uma Teoria das virtudes

Acadêmica: Fabiane Weber
Professor: Denis Coutinho

Introdução
A justiça sempre foi e será centro de grandes discussões, bem como, objeto de estudo do Direito, a saber, pois é devido a ela que se norteia toda a fundamentação do Direito. A justiça então rege o ordenamento jurídico e é ordenada pela Filosofia. Ou seja, é a Filosofia que vai dar o fundamento desta, afim de regular o agir humano.
Ao longo da história da filosofia, diversos pensadores dedicaram sua vida á tentar fundamentá-la. Platão foi um destes gênios da dialética à se dedicar ao seu estudo, tanto no Górgias como na República o diálogo central se da sobre o que é a justiça?
Platão sempre expôs suas idéias em forma de diálogos, sendo Sócrates seu interlocutor, rebatia todas as teorias sobre justiça que lhe era contrária. Sócrates refutou todas essas teorias com genialidade, desde os antecedentes da justiça como Homero e Hesíodo que tinham uma visão religiosa de justiça, até os sofistas, seus adversários mais consistentes, que tinham um visão de justiça subjetiva e totalmente emotivista.
O jovem Platão estava muito ligado aos diálogos socráticos, onde as aporias eram apenas uma forma de questionamento, já na Republica uma obra da maturidade de Platão, o filósofo mostra sua consistente teoria da justiça, como uma teoria das virtudes. Onde a base da política de Platão é sem dúvida nenhuma a educação, a saber, esta é o critério para a ascensão dentro da pólis. onde cada cidadão passa por um processo educacional próprio, que irá determinar sua classe social.
O objetivo deste artigo é relatar a visão de Platão sobre justiça na sua obra intitulada de República ou Res publica, cujo a tradução correta é Politéia ou constituição.
Justiça Uma teoria das Virtudes
É essencial antes de entrarmos no estudos dos diálogos da República, fazer uma análise rápida dos diálogos do Górgias. Nestes diálogos através de Sócrates, Platão já começa a esboçar sua teoria das virtudes, refutando o próprio Górgias,Pólo e Cálicles.
Górgias quanto a definição de retórica, que este defendia como sendo a arte da persuasão e que seria capaz de ensinar a retórica a qualquer um que quisesse aprender. A retórica era a arte utilizada nas assembléias e nos tribunais, sendo o objeto do discurso o que era o injusto e justo.
Sócrates refuta Górgias
1 da seguinte maneira, afirmando que o retórico pode fazer mal uso da Retórica. visto que, ela pode levar a dois tipos de persuasão. Ao que leva as “doxas”, ou seja, opiniões que podem ser verdadeiras ou falsas e o que leva ao verdadeiro conhecimento “episteme” ou ciência. Além disso Sócrates afirma que o bom orador se for justo jamais fará o mal uso da retórica, levando Górgias a contradição.
Sócrates refuta Pólo
2 quanto à sua tese, Para o sofista é melhor cometer a injustiça do que sofrê-la. Ou seja é justo retribuir o mal com o mal,3 Pólo argumenta que muitos Homens que praticam o mal são felizes.
Sócrates discorda deste pensamento dizendo que a felicidade é um bem, sendo um bem ela é uma virtude e a infelicidade é um mal, que leva a um vicio. Portanto a justiça é uma virtude,é um critério moral,é como devo me ordenar para o agir corretamente.
A refutação de Sócrates a Pólo
4 é a seguinte: é mais feio cometer a injustiça do que sofre-la, ou seja, não devemos retribuir o mal com o mal. Aqui vem à tona a idéia platônica de belo referente ao bom, assim como o feio referente ao mal. As virtudes relacionadas ao bom são: coragem, temperança e justiça, os vícios ligados ao mal, covardia, intemperança e injustiça.
No terceiro diálogo, Cálicles retoma o debate sobre justiça, Afirmando que o homem deve seguir a justiça natural,ou seja, os seus desejos e apetites, há aqui uma distinção entre justiça natural (physis) e justiça legal(nomos). Pois para a justiça legal não é correto cometer a injustiça ao contrario da justiça natural, defendida pelos sofistas.
Até aqui vimos como Platão define a justiça, como sendo uma virtude, um critério moral, um bem. É de fundamental importância entender os argumentos sofísticos bem como o pensamento platônico nesses diálogos da fase socrática, para poder estabelecer a base do pensamento platônico.
A Republica
Livro I
Platão desenvolvera neste livro, além de sua teoria da justiça, também toda uma estrutura da cidade ideal, onde o homem vive em harmonia segundo uma ética das virtudes. Vamos estudar agora essa estrutura aporética dos diálogos da Republica.
O livro I serve apenas de prelúdio para o livro II, nele é estabelecido o tema central dos discursos que se seguem. Platão interroga sobre o que é Justiça? Se ela é uma virtude ou um vicio, ou seja, sabedoria ou ignorância? Quem é mais vantajosa para quem pratica a justiça ou a injustiça? A justiça traz felicidade?
Esses como vimos são os temas a serem discutidos nesses diálogos, porém, como vimos, já vem sendo analisado cuidadosamente por Platão desde o Górgias. Nestes discursos, Platão por intermédio da dialética e ironia socrática, vai refutar novamente as concepções de justiça do senso comum. Seus interlocutores nessa tarefa serão; Céfalo, Polemarco, Trasímaco e Glauco.
A primeira Concepção de justiça que Sócrates refuta é de Céfalo, que era “ Dizer a verdade e retribuir aquilo que se tomou”
5, mas Céfalo admitia que a particularidades da ação deve ser levada em consideração.
A refutação de Sócrates a Céfalo é a seguinte.
“...Quando alguém, de um amigo que estiveres em seu juízo perfeito recebesse armas, se estando fora de si, ele as pedisse de volta, todo mundo diria que não deveria devolver tais armas e que não agiria com justiça quem as devolvesse.”
6
Sendo assim Sócrates afirma que podemos agir justamente ou injustamente dependendo da situação em que estamos. Devolver as armas á alguem fora do seu juízo normal, pode ser injusto.
A seguir Polemarco segue a discussão e refere-se ao poeta Simónides quanto a sua concepção de justiça, que é “ restituir a cada um o que lhe convém”
7. Sócrates rebate dizendo que essa concepção de justiça pode levar a dois opostos, “fazer o bem aos amigos e mal aos inimigos”8 e afirma que o Homem justo jamais será capaz de cometer injustiças, ou seja fazer o mal a outro.
A segundo concepção de justiça é de Trasímaco “Justiça é aquilo que é conveniente ao mais forte”
9, é justo os mais poderosos governarem os mais fracos e a estes só cabem á obediência e a submissão.
Sócrates refuta à Trasímaco
10 da seguinte maneira, “os governantes podem usar o poder para seu próprio beneficio, argumentando que sendo a política uma arte essa como tal, o seu fim deveria ser querer o bem, ela não poderia então, fazer o mal ou agir incorretamente”. E retomando a refutação á Cálicles no Górgias, reafirma que a sabedoria do Homem justo está ligada à sua conduta moral.
Karen Franklin da SILVA em seu artigo “Uma Concepção de justiça em Platão e Rawls” coloca que: A força do homem justo esta no princípio de união que este tem com seus companheiros e, por isso, é mais feliz. Além disso complementa.
Essa teoria da justiça que Platão delimita nessa resposta, abre caminho para a legitimação da consciência da associação de homens na cidade e também para a teoria da função especifica de Homem deve ter nessa associação....Platão procura mostrar que a justiça não é um código convencional de conduta, mas uma excelência interna da alma.
11
A terceira concepção de justiça é de Glauco que estaremos estudando no decorrer deste artigo.
Livro II
Neste livro é de fundamental importância ressaltar primeiro à definição de dois tipos de Bem, o Bem Aparente e o Bem Real. O bem aparente é particular, é aquele expresso pelos sentidos, é o prazeroso. Já o bem real é dado por Platão, como o mundo inteligível ou da razão, da ciência, do conhecimento verdadeiro.
Platão ainda faz uma outra distinção de bem, que é qualificada por sua importância na formação de cada cidadão dentro da cidade.
Bem em si mesmo- que é alegria
Bem por suas conseqüências – que é a inteligência
Bem por sua utilidade- a ginástica
Glauco mostra-se contrário desde o começo à intenção de Sócrates de definir a justiça, como um bem em si e por suas conseqüências, visto que, acreditava que o homem só praticava a justiça involuntariamente
12, ou seja, sob manto da impunidade todos agem injustamente.
Glauco defende a justiça como um bem por sua utilidade, a injustiça é mais vantajosa que a justiça nesse caso, visão totalmente consequencialista e utilitarista A justiça então é apenas um contrato social
13 feito entre os homens. segundo Glauco não precisamos ser éticos, devemos apenas parecer éticos, pois nossos atos são realizados, de acordo com as regras impostas pela sociedade.
Para se contrapor a idéia sofista de justiça, Sócrates elabora o argumento da função de cada coisa. Onde cada coisa tem sua função que lhe é própria e cada função corresponde ao que cada um pode fazer da melhor maneira,cada coisa possui uma excelência própria. A função própria ou “Ergom” do Homem é a racionalidade.
Livro III
É neste livro que Platão Para responder a Glauco cria a pólis, ou a cidade ideal. Estabelecendo a função de cada um dentro da cidade de acordo com sua função própria ou de acordo com a sua virtude. Platão relaciona as partes da alma com a posição social. Afirmando ainda que, a virtude da “moderação” deve ser comum à todos os indivíduos, a “Coragem” é própria do Guerreiro ou soldado- guardião, enquanto a “Sabedoria” é única do Governante, pois só o Rei-Filósofo possui a capacidade de governar.
Platão caracteriza assim a Republica.
Função da Alma
Virtude
Função na Pólis
Classe Social
Desejo
(epithymia)
Moderação
Subsistência
Artesão, comerciantes
Querer
(thymos)
Coragem
Proteção
Soldado ou Guardião
Razão
(Nous)
Sabedoria
Governo
Guardião
Rei Filósofo
A partir dessa divisão e com o argumento da função própria de cada coisa, se estabelece as relações interpessoais dentro da pólis. Além disso, já fica clara a idéia de Justiça para Platão, como uma síntese dessas virtudes. Virtude é entendida aqui como uma capacidade que o homem possui em ser melhor.
A relação entre as partes da alma e da cidade pode ser entendida melhor nessa definição de Giovanni Reale em sua História da Filosofia.
“Assim, como são as três partes do estado, são as três partes da alma: a apetitiva, a irracível e a racional. Existe, portanto, correspondência perfeita entre as virtudes da cidade e as virtudes do individuo, o indivíduo é 'temperante' quando as partes inferiores da alma se harmonizam com a superior e a ela obedece; é forte ou corajoso quando à parte 'irascível' da alma sabe manter com firmeza os ditames da razão e em meio as adversidades; é 'sábio' quando a parte 'racional' da alma possui a ciência daquilo que é útil a todas as partes ( a ciência da Bem)..”
14
Com isso, chegamos a seguinte definição da Justiça platônica, ela é uma justiça social, pois cada indivíduo deve fazer o bem em si e por suas consequências. Ou seja, só haverá justiça na Pólis se cada indivíduo desempenhar bem o seu papel ou sua função na comunidade, não cumprindo mais do que lhe é devido nem menos. Quanto a justiça do cidadão, será justo aquele que souber sintetizar todas as virtudes e cumprir com seus deveres dentro da Pólis15.
Outro ponto importante a se destacar na obra platônica é a questão da educação, ponto crucial na diversificações dos papeis de cada cidadão dentro da Pólis.
Para primeira classe dos artesãos, comerciantes ou agricultores, Platão alegava que não necessitava de educação especial, pois as artes e e os oficios eram facilmente aprendidos na prática.
Com relação a segunda os soldados necessitavam de exercitar-se, tanto a mente quanto o corpo. Por isso, o estudo das artes, da ginástica ( alimentação e exercícios simples) e da musica.
Para os governantes além destas deveria estar incluindo na educação a dialética. A arte própria do filósofo.
16
Conclusão
A partir do estudo dos livros I,II e III da Republica já é possível, identificar alguns pontos importantes na concepção platônica de justiça.
Tendo à educação como base da orientação do homem, este irá desenvolver o poder de sintetizar as virtudes que lhe são próprias. Em outras palavras, agirá justamente. Porém, só será considerado um Homem Justo na comunidade. se somente se, desempenhar bem o papel que lhe cabe dentro da sociedade.
Então temos dois tipos de justiça, a saber, a justiça individual, que nada mais é, do o agir corretamente de acordo com sua consciência moral, bem como, a justiça social, que seria o bem por suas consequências, ou seja, fazer o bem aos outros cumprindo bem o seu papel dentro da sociedade perfeita.
Diante desse contexto, podemos concluir à platônica de justiça, como sendo uma Síntese de todas as virtudes, que o princípio que Platão nos apresenta é moral e não legal, visto que, para os gregos à legalidade está submetida à moralidade.
Referências Bibliográficas
PLATÃO A República [ou sobre a justiça diálogo político] / Platão;tradução Anna Lia de Amaral Oliveira Prado; revisão técnica e introdução Roberto Bolzani Filho.- São Paulo:Martin Fontes,2006.
REALE,GIOVANI História da Filosofia:Filosofia Pagã e Antiga. V .1/ Giovani Reale,Dário Antisere;[tradução Ivo Stomiolo].-São Paulo:Paulus,2003.
SILVA, KAREN FRANKLIN “Uma concepção de justiça em Platão e Rawls” Artigo publicado no v. 4, numero 1, Revista de Ética Phrónisis: Rio de janeiro, junho,2002
1A República 454 d
2A República 461b à 481a
3Pólo como todo sofista defende a regra da maioria, ou seja, “poder é um bem para quem possui”. Seguindo a linha de pensamento sofistico, Pólo acredita que o Homem é movido por paixões e como tal deve seguir seus instintos. Ou seja, é a teoria sofista de justiça retributiva.
4A República 477 d
5A República 331 c
6A República 331ac
7A República 331 e
8A República 454 d 331d
9Argumento do Mais Forte, segundo os sofistas o justo natural consiste, no mais forte assenhora-se pela força dos bens dos mais fracos e em os melhores governarem os que lhe são inferiores. Com isso Trasímaco retoma o argumento de Cálicles no Górgias.
10A República 347 a
11 SILVA Karen Franklin da Phrónisys revista de Filosofia no v. 4, numero 1, Revista de Ética Phrónisis: Rio de janeiro, junho,2002 p 41
12Alegoria do anel de Gizes de Platão, A Republica 359 c
13Glauco se refere as convenções, as leis da justiça legal.
14Giovani Reale e Antisere – História Da Filosofia Pagã e Antiga p 160
15A República 374 c
16A República 376 e à 377 a

domingo, 9 de março de 2008

Parmenides



PARMÊNIDES DE ELÉIA (cerca de 530-460 a.C.)
Parmênides nasceu em Eléia, hoje Vélia, na Itália. Foi discípulo do pitagórico Ameinias e mostrou conhecer a doutrina pitagórica. Provavelmente também seguiu as lições do velho Liquenófane. Em Atenas, com Zenão, combateu a filosofia dos jônicos. Floresceu por volta de 500 a.C.. Platão afirmou que Parmênides esteve em Atenas, onde se encontrou com o jovem Sócrates e que, na ocasião, tinha 65 anos. Enquanto os milésios e Heráclito escreveram em prosa, Parmênides foi o primeiro filósofo a expor suas idéias em verso. Seu famoso poema, do qual restam alguns fragmentos, está escrito em hexâmetros (influência provável de Xenófanes) e, nele, o filósofo-poeta se apresenta como o Escolhido, conduzido pelas Filhas do Sol à sua Musa, que, com a permissão da Justiça, revelalhe a Verdade e toda a Verdade. O poema é conhecido como “Sobre a Natureza” (não se tem certeza se seria o título original ou o título tardio, sempre dado às obras dos pré-socráticos). A obra se divide em duas partes, após um preâmbulo. A primeira ficou conhecida como a Via da Verdade (¢l»qeia) e a segunda como a Via da Opinião (dÒxa). Da primeira, há numerosos fragmentos, mas da segunda restam poucos. Para muitos, a obra ergue-se contra o pitagorismo (a dualidade par-ímpar como origem da ordem do mundo) e contra Heráclito (o fluxo perpétuo e a identidade do uno e do múltiplo). É sintomático que o poema fale em duas vias ou dois caminhos que correspondem à diferença entre a palavra inspirada (¢l»qeia), a verdade como não-esquecimento do que foi contemplado no invisível, e a palavra leiga das assembléias (dÒxa), a verdade como decisão e opinião compartilhada nas discussões públicas.
Ele foi estranho e enigmático para os próprios gregos contemporâneos de Parmênides. É que nas fórmulas extremamente condensadas de seus versos estão colocadas as questões fundamentais que, doravante, ocuparão a filosofia.
Que está dizendo Parmênides?
Que o ser é e o nada não é .
Que o ser pode ser pensado e dito.
Que o nada não pode ser pensado nem dito.
Que pensar e ser são o mesmo.
Que, portanto, o nada é não-ser e impensável.
Que dizer e ser são o mesmo.
Que, portanto, o nada é não-ser e indizível. Mas que significa isso que Parmênides está dizendo? E por que afirma ele que isso é o que a Deusa lhe mostra na Via da Verdade, oposta à Via da Opinião que os mortais costumam seguir? Para muitos intérpretes, Parmênides teria, pela primeira vez, formulado os dois princípios lógicos fundamentais de todo o pensamento: o princípio da identidade — o ser é o ser — e o princípio de nãocontradição — se o ser é, o seu contrário, não-ser, não é. Em outros termos, se o ser é e pode ser pensado e dito, então o ser é ele mesmo, idêntico a si mesmo e será impossível que seu negativo, o nada ou não-ser, também seja e também possa ser pensado e dito. A afirmação do ser exige a negação de seu oposto, o não-ser. Parmênides teria descoberto a lei fundamental do pensamento verdadeiro, pela qual é impossível afirmar ao mesmo
tempo uma coisa e seu contrário. Ora, é próprio da dÒxa permitir e estimular o confronto de idéias contrárias, aceitando igualmente a validade de ambas. Se assim é, então a Via da Opinião é aquela que não respeita a identidade e a não-contradição, e por isso é a via do falso. Para outros intérpretes, porém, o mais importante na formulação parmenidiana não é seu aspecto lógico (este aspecto seria apenas um derivado ou um efeito) e sim seu aspecto ontológico. Ou melhor, com Parmênides teria nascido o que conhecemos como ontologia. Por que ontologia? No grego, o particípio presente do verbo ser é (masculino, feminino e neutro) e, no dialeto jônico, empregado por Parmênides, esse particípio é Ÿwn, Ÿousa, ™Õn. Esse particípio pode ser usado como substantivo singular e plural, no masculino, no feminino e no neutro. Os usos substantivados mais freqüentes eram:
no masculino singular, o que é ou aquele que é e, no masculino plural,os viventes, os que vivem;
2) no neutro singular, tÒ Ôn (™Õn), o ente, o ser; no neutro plural, as coisas existentes. Usando-se a partícula negativa m», pode-se dizer: o não-ente, o não-ser; e no plural , os não-entes, as não-coisas, os não-seres. Ontologia é, portanto, o estudo do ser ou o pensamento do ser. Essas palavras encontram-se em todo o poema de Parmênides e nos trechos que foram estudados, e é por isso que muitos intérpretes consideram que a ontologia nasce quando Parmênides afirma que a ¢rc» é o ser ou o que é, o ente — e que o não-ser, o não-ente — não é . E convém observar a radicalidade de Parmênides: ele não considera que podemos pensar e dizer o que existe e não podemos pensar e dizer o que não existe, e sim que o que é pensável e dizível existe, e que o que não é pensável nem dizível não existe. Pela primeira vez é afirmada a identidade entre ser, pensar e dizer, ou entre mundo, pensamento e linguagem. Tal identidade é o núcleo da ontologia parmenidiana ou a Via da Verdade. Por que a opinião (dÒxa) é o caminho do não ser? A que se refere a opinião? Ao que parece ser de um certo modo, mas nada impede que pudesse ser de outro para uma outra pessoa, ou em outro momento de nossa vida. Nela exprimimos nossas preferências, nossos sentimentos e interesses, que variam de pessoa para pessoa e variam numa mesma pessoa, dependendo das circunstâncias. A “Opinião” são opiniões instáveis, mutáveis, efêmeras e por isso no fragmento 1, 53 do poema de Parmênides diz: “as opiniões dos mortais, em que não há verdadeira fidelidade”, isto é, em que não podemos confiar nem nos fiar, pois mudam sempre. Referindo-se ao que nos parece ser “assim” mas poderia ser de outra maneira, a dÒxa depende das variações de estados de nossos corpos e das situações de nossas vidas.
Porém, não só isso. Sua variação contínua indica que nela não temos conhecimento verdadeiro daquilo que é, do ser, mas apenas o conhecimento das aparências das coisas, isto é, de como elas aparecem aos nossos órgãos dos sentidos. Ora, o que é uma aparência? Aquilo que pode deixar de aparecer como está aparecendo, aquilo que poderia não ser tal como aparece. Em outras palavras, se a aparência é o que alguma coisa nos parece ser, mas pode não ser tal como aparece, então ela é o não-ente, o não ser. Se o ser é o que permanece sempre idêntico a si mesmo, onde melhor se mostra a aparência enquanto aparência? Na mudança contínua. No deixar de ser uma maneira para tornar-se de outra. Numa palavra, no devir, no incessante vir a ser em que as coisas se tornam outras, tornando-se o que não são. O devir é movimento, mudança qualitativa, quantitativa e local. Por isso o movimento é o campo principal da aparência e da opinião: as coisas parecem mudar e as opiniões mudam com elas. O devir é aparência mutável, é o não-ser.

domingo, 2 de março de 2008

Sócrates



Sócrates
“ Vida e Morte Pela Filosofia ”
Nascido em Atenas no final do ano 470 ac ou inicio do ano 469 ac, era filho de um escultor e de uma parteira, Sócrates serviu em várias guerras chegando a se destacar em algumas batalhas. Mas ficou conhecido mesmo pela Filosofia. Desde cedo ele percorria as ruas da capital grega, perguntando as pessoas, jovens ou velhas, o que eram os valores em que elas acreditavam: O que Coragem?, O que é Justiça?, O que é Amizade? Se respondiam que eram virtudes, Sócrates retrucava: O que é virtude? E assim sucessivamente, a cada resposta, ele formulava uma nova pergunta. No final do diálogo, o filósofo sempre provava que as pessoas não sabiam sobre o que estavam falando.
A figura Sócrates: foi uma autoridade intelectual sem precedentes no seu tempo, continua ainda hoje sendo complexa e ambígua, isso por quê, não deixou nada escrito, tudo que se sabe foi descrito por seus discípulos, entre eles o mais famoso foi Platão.
A Maiêutica Socrática
O que Sócrates fazia pelas ruas de Atenas, era uma especie de investigação, ele buscava o significado das palavras, como também, fazer as pessoas pensarem sobre elas. Com o objetivo de trazer novas idéias á tona, Sócrates criou um método próprio que ele chamou de maiêutica, que significa parto de idéias ( homenagem a sua mãe que era parteira). Na maiêutica o filósofo incentivava seus alunos a dar à luz a novas idéias, interrogando - os sem parar num jogo incessante. Fazia surgir a verdade.
De fato o único objetivo de Sócrates e da Filosofia era faze o Homem pensar, pois os pensamentos eram como um balsamo, um remédio capaz de curar as feridas da ignorância, a grande culpada pelos grandes males sofridos pelo homem.
A Dialética Socrática
Interlocutor- busca a verdade- finge que não sabe;
Refutação – admite que não sabe
Maiêutica- parí as idéias


A Ética Socrática


Virtude é conhecimento
A ética de Socrares era baseada nas virtudes, era na verdade uma retomada da ética grega. Para Sócrates a virtude não pode ser ensinada, ela é inata, ou seja, acompanha o homem desde seu nascimento até sua morte.
Sendo a virtude um conhecimento inato, então Sócrates afirmava que ninguém peca voluntariamente, pois se age mal é por ignorância do bem, então não há responsabilidade moral nesse ato e portanto não é passível de punição
Segundo Sócrates o único saber fundamental deve ser “Conhece-te a ti mesmo”1 frase essa que para o Filósofo significava, que o conhecimento não é um estado, mas um processo, na qual o homem deve se empenhar, a fim de crescer espiritualmente. E somente seria possível esse processo se o Homem primeiro negasse tudo o seu próprio conhecimento, daí a famosa frase dita pelo Filósofo: “ Só sei, que nada sei ”.2
Após o encontro com o oráculo, Sócrates abraçou a Filosofia como uma missão de vida: a busca incessante pela sabedoria e da verdade, com isso se tornou um modelo moral. Pois morreu defendendo suas idéias. Pois os ensinamentos de Sócrates irritava muitos grupos da sociedade grega da época, pois com seu método questionador, usando a razão e o pensamento lógico, ele conduzia as pessoas à construções de problemas que antes não existia.
Sócrates foi o primeiro a questionar as ações humanas e os valores subjacentes a ela, As questões socráticas inauguram a ética ou filosofia moral, porque definem o campo no qual valores e obrigações morais podem ser estabelecidos, ao encontrar seu ponto de partida: a consciência do agente moral . É sujeito ético moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. Sócrates afirma que apenas o ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois quem sabe o que é o bem não poderá deixar de agir virtuosamente.
Sócrates perguntava: Que razões rigorosas você possui para dizer o que diz e para pensar o que pensa? Qual é o fundamento racional daquilo que você fala e pensa? Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a idéias, valores, práticas e comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros em si mesmos e por si mesmos. Ao fazer suas perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates os fazia pensar não só sobre si mesmos, mas também sobre a polis. Aquilo que parecia evidente acabava sendo percebido como duvidoso e incerto.
Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado perante a assembléia, Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno - a cicuta - e obrigado a suicidar-se.
Por que Sócrates não se defendeu? “Porque ”, dizia ele, “se eu me defender, estarei aceitando as acusações, e eu não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter que renunciar à Filosofia”.
1Inscrição que o filosofo se deparou no pórtico do templo do Deus Apolo, ao procurar pelo Oráculo de Delfos, em busca do verdadeiro conhecimento.
2O Oráculo de Delfos aclamava á todos os cidadão que lhe procuravam que: “Sócrates era Sábio, pois sabia, que nada sabia”.

Platão





Platão
Sócrates nunca escreveu. O que sabemos de seus pensamentos encontra-se nas obras de seus vários discípulos, e Platão foi o mais importante deles. Se reunirmos o que esse filósofo escreveu sobre os sofistas e sobre Sócrates, além da exposição de suas próprias idéias, poderemos apresentar como características gerais do período socrático.
A Filosofia se volta para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das idéias, das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as questões morais e políticas. O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se; é a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas, alcançando o conceito ou a essência delas.
Nascido em 476 a.c, Platão pertencia a uma tradicional família de Atenas, recebeu a educação clássica dos jovens nobres da época. Ida ao ginásio com vista a formação de guerreiro, musica e poesia. Ao mesmo tempo destinado a participar da vida politica, frequentou os sofistas para aprender a retórica.
Aos 20 anos levados por amigos, começou a frequentar o circulo de Sócrates, tornando-se seu mais importante discípulo. No livro a Apologia fax a defesa de Sócrates e a refutação das acusações que caíram sobre seu mestre.
Com á morte de Sócrates, ele decidiu viajar e depois de 12 anos perambulando por aí voltou a Atenas, já com 40 anos e fundou a Academia, uma escola para Filósofos. A Academia tinha um objetivo, á investigação científica e Filosófica e sua fundação é um marco na história do pensamento ocidental.
Um dos livros mais importante de Platão é a Republica, no qual Platão discorre sobre a justiça na ética e na política, é nele também que o filosofo narra o mito da caverna, uma de suas alegorias mais famosas.
O mito da caverna
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que
reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo.
O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.
O Mundo das Idéias
Então para Platão a tarefa da Filosofia era libertar o Homem da escuridão da caverna, do mundo das aparências e leva-lo para o mundo real, que é o mundo das essências. A teoria da idéias é parte central do pensamento platônico, segundo ela existe uma esfera superior ao mundo físico, onde estão as idéias puras. É o mundo inteligível e espiritual que é causa primaria de tudo, as idéias seriam incorpóreas e invisíveis, eternas, perfeitas e imutáveis e os Homens, assim como todos os objetos que conhecemos são mera cópias, imperfeitas e incompletas dos objetos existente no mundo das idéias.
Imortalidade da Alma
Segundo Platão a alma se divide em três: desejo, emoção e conhecimento, e a razão é personificada pelo conhecimento que deve comandar as outras duas. O desejo é controlado pelo coração, enquanto o conhecimento é controlado pela razão. Também afirma que o corpo é o carcere da alma.

Aristóteles






Aristóteles
Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles apresenta, nesse período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos do pensamento e da prática considerando essa totalidade de saberes como sendo a Filosofia. Esta, portanto, não é um saber específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer todas as coisas, possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que conhece.
Além de a Filosofia ser o conhecimento da totalidade dos conhecimentos e práticas humanas, ela também estabelece uma diferença entre esses conhecimentos, distribuindo-os numa escala que vai dos mais simples e inferiores aos mais complexos e superiores. Essa classificação e distribuição dos conhecimentos fixou, para o pensamento ocidental, os campos de investigação da Filosofia como totalidade do saber humano. Cada saber, no campo que lhe é próprio, possui seu objeto específico, procedimentos específicos para sua aquisição e exposição, formas próprias de demonstração e prova. Cada campo do conhecimento é uma ciência (ciência, em grego, é episteme). Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu campo próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição, de demonstração e de prova, deve, primeiro, conhecer as leis gerais que governam o pensamento, independentemente do conteúdo que possa vir a ter. O estudo das formas gerais do pensamento, sem preocupação com seu conteúdo, chama-se lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer campo do saber.
A lógica não é uma ciência, mas o instrumento para a ciência e, por isso, na classificação das ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela seja indispensável para a Filosofia e, mais tarde, tenha se tornado um dos ramos específicos dela.
Os campos do conhecimento filosófico Vejamos, pois, a classificação aristotélica:
Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as técnicas, isto é, as ações humanas cuja finalidade está para além da própria ação, pois a finalidade é a produção de um objeto, de uma obra. São elas: arquitetura (cujo fim é a edificação de alguma coisa), economia (cujo fim é a produção agrícola, o artesanato e o comércio, isto é, produtos para a sobrevivência e para o acúmulo de riquezas), medicina (cujo fim é produzir a saúde ou a cura), pintura, escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação, etc. Em suma, todas as atividades humanas técnicas e artísticas que resultam num produto ou numa obra.
Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações que têm nelas mesmas seu próprio fim, isto é, a finalidade da ação se realiza nela mesma, é o próprio ato realizado. São elas: ética, em que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para alcançar o bem do indivíduo, sendo este bem as virtudes morais (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência, prudência, amizade, justiça, modéstia, honradez, temperança, etc.); e política, em que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para ter como fim o bem da comunidade ou o bem comum.
Para Aristóteles, como para todo grego da época clássica, a política é superior à ética, pois a verdadeira liberdade, sem a qual não pode haver vida virtuosa, só é conseguida na polis. Por isso, a finalidade da política é a vida justa, a vida boa e bela, a vida livre.
Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: são aquelas que estudam coisas que existem independentemente dos homens e de suas ações e que, não tendo sido feitas pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria, em grego, significa contemplação da verdade. O que são as coisas que existem por si mesmas e em si mesmas, independentes de nossa ação fabricadora (técnica) e de nossa ação moral e política? São as coisas da Natureza e as coisas divinas. Aristóteles, aqui, classifica também por graus de superioridade as ciências teóricas, indo da mais inferior à superior:
1. ciência das coisas naturais submetidas à mudança ou ao devir: física, biologia, meteorologia, psicologia (pois a alma, que em grego se diz psychê, é um ser natural, existindo de formas variadas em todos os seres vivos, plantas, animais e homens);
2. ciência das coisas naturais que não estão submetidas à mudança ou ao devir: as matemáticas e a astronomia (os gregos julgavam que os astros eram eternos e imutáveis);
3. ciência da realidade pura, que não é nem natural mutável, nem natural imutável, nem resultado da ação humana, nem resultado da fabricação humana. Trata-se daquilo que deve haver em toda e qualquer realidade, seja ela natural, matemática, ética, política ou técnica, para ser realidade. É o que Aristóteles chama de ser ou substância de tudo o que existe. A ciência teórica que estuda o puro ser chama-se metafísica;
4. ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo o que existe na Natureza e no homem. Vimos que as coisas divinas são chamadas de theion e, por isso, esta última ciência chama-se teologia. A Filosofia, para Aristóteles, encontra seu ponto mais alto na metafísica e na teologia, de onde derivam todos os outros conhecimentos.
A partir da classificação aristotélica, definiu-se, no correr dos séculos, o grande campo da investigação filosófica, campo que só seria desfeito no século XIX da nossa era, quando as ciências particulares se foram separando do tronco geral da Filosofia. Assim, podemos dizer que os campos da investigação filosófica são três:
. O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda a realidade. Como, em grego, ser se diz on e os seres se diz ta onta, este campo é chamado de ontologia (que, na linguagem de Aristóteles, se formava com a metafísica e a teologia).
2º. O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação humana: das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política, ou a vida moral (valores morais) e a vida política (valores políticos); e das ações que têm sua finalidade num produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus valores (utilidade, beleza, etc.).
3º. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o conhecimento do próprio pensamento em exercício. Aqui, distinguem-se: a lógica, que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do conhecimento, que oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências propriamente ditas e o conhecimento do conhecimento científico, isto é, a epistemologia. Ser ou realidade, prática ou ação segundo valores, conhecimento do pensamento em suas leis gerais e em suas leis específicas em cada ciência: eis os campos da atividade ou investigação filosófica.