sábado, 23 de fevereiro de 2008

Anaxímenes de Mileto


ANAXÍMENES DE MILETO (cerca de 585-525 a.C.)
Anaxímenes foi discípulo e continuador de Anaximandro. Escreveu sua obra, “Sobre a Natureza”, também em prosa, no dialeto jônico. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. Os antigos consideraram Anaxímenes a figura principal da escola de Mileto.
FRAGMENTOS:
1. O contraído e condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e frouxo (é assim que ele se expressa) é quente.
2. Como nossa alma, ele diz, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o
cosmos, sopro e ar o mantêm. O sol é largo como uma folha.
A archê, ou o princípio, é o ar. As idéias de Anaxímenes podem parecer um retrocesso se comparadas às de Anaximandro, que evitara identificar a archê com qualquer dos elementos ou qualidades sensíveis de nossa experiência. Na verdade, não é o caso. Anaxímenes considera o Apeiron de Anaximandro ainda muito próximo do caos que é descrito pelo mito antigo. Mantendo a idéia central de seu predecessor, isto é, que a ¢rc» é ilimitada, incorruptível e imortal, Anaxímenes exige que ela seja determinada ou qualificada, pois o pensamento só pode pensar o que possui determinações.
O ar, não é o frio e o ar que sentimos, mas o princípio do qual o ar de nossa vida e de nossa experiência provém. Torna-se sensível para nós por meio do frio, do quente, do úmido e do seco, mas, quando perfeitamente homogêneo e idêntico a si mesmo, torna-se insensível e só pode ser apreendido pelo pensamento. Por que a escolha do ar? Segundo o testemunho doxográfico, Anaxímenes teria escrito que “assim como nossa alma, que é ar, nos sustenta e nos governa, assim também o sopro e o ar abraçam todo o cosmos” e que “o ar está nas cercanias do incorpóreo [sem forma e invisível] e já que nascemos graças ao seu fluxo, é preciso que seja ilimitado para que jamais acabe”. Assim, podemos supor que Anaxímenes concebeu o ar como Úsij e ¢rc» porque:
1. ao contrário da água, que precisa de um suporte ou de um continente, o ar sustenta-se a si mesmo; possui uma autonomia ou auto-suficiência, própria de um fundamento ou princípio;
2. sua presença e sua difusão são ilimitadas, podendo compor todas as coisas;
3. respirar é o primeiro ato de um ser vivo e também o último, antes de morrer, por isso o ar é o
princípio vital. Num dos fragmentos lemos: “como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmos, sopro e ar o mantêm”. O ar, alma nossa e do mundo, é o que mantém unidas as partes de um todo — nosso corpo e o cosmos. O mundo é um ser vivo
que respira e que recebe do sopro originário a unidade que o mantém. A grande originalidade de Anaxímenes, perante Tales e Anaximandro, consiste no fato de que a multiplicidade, transformação e ordenação do mundo se fazem por alterações quantitativas em um único princípio:menos ar (rarefação) e mais ar (condensação) determinam toda a variação e organização do real. O ar, elemento universal, invisível e indeterminado, por sua força interna própria, movimenta-se: contraindo-se ou dilatando-se, vai engendrando todos os seres determinados como manifestações visíveis de uma vida perene. O cosmos vive no ritmo de uma respiração gigantesca que o anima e
mantém coesas suas partes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Anaximandro de Mileto



ANAXIMANDRO DE MILETO

Anaximandro de Mileto (609/610 a.C. - c. 546 a.C.) foi um filósofo pré-Socrático. Discípulo de Tales. Geógrafo, matemático, astrônomo e político. Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza”; contudo, infelizmente, esse livro se perdeu.
Anaximandro espantava-se com as oposições que constituem o mundo: o fogo que consome o ar, mas é destruído pela água; a terra seca que luta para não ser tomada pela água nem pelo fogo; o mar que é úmido, mas que se torna ar ao evaporar e luta contra ele ao recair como chuva; a seqüência eterna das estações do ano; as diferenças entre os animais (alguns estão sempre na água, outros na terra, outros no ar); as diferenças entre os homens (alguns de cor diferente de outros, alguns calmos e serenos, outros coléricos e belicosos); as lutas entre homens e animais, entre os próprios animais e entre os próprios homens; a luta dos homens para cultivar a terra, conquistar o mar, etc.. Essas lutas, decorrentes da individuação e diferenciação dos seres, do predomínio de uma qualidade sobre as outras, ao mesmo tempo que cria o kÒsmoj, é uma injustiça que precisa ser reparada, pois a justiça é a paz e o mundo é guerra dos contrários.
Como surge o mundo? Por um movimento circular, semelhante a um turbilhão, que irrompe em diversos pontos do Apeiron. Nesse movimento, separam-se do ilimitado indeterminado as duas primeiras determinações ou qualidades: o quente e o frio dando origem ao fogo e ao ar; em seguida,
separam-se o seco e o úmido, dando origem à terra e à água. Essas determinações combinam-se ao lutar entre si e os seres vão sendo formados como resultado dessa luta, quando um dos contrários domina os outros. O devir é esse movimento ininterrupto da luta entre contrários e terminará quando forem todos reabsorvidos no Apeiron.
Atribuem-se ainda a Anaximandro duas idéias muito originais: a primeira delas, sobre a origem e formação do céu e da terra, e a segunda, sobre a existência de mundos inumeráveis. A primeira separação do quente e do frio formou um anel luminoso de chamas que cercou o ar frio, prosseguiu formando novos e menores anéis — os astros — dispondo-os para formar o zodíaco. Donde, segundo Hipólito, Anaximandro afirmar que “os corpos celestes são rodas de fogo separadas do fogo que cerca o mundo, e fechadas em círculos de ar”. Há três rodas ou três anéis: o anel do Sol, o anel da Lua e o anel das estrelas (aí compreendidos todos os astros que não o Sol e a Lua). A terra e o mar formaram-se com a separação do seco e do úmido, no interior do primeiro círculo de fogo que se destacara: o mar é o que restou do úmido sob a ação do fogo, e a terra, o que restou do seco sob a ação do fogo e do úmido.
Diferentemente de Tales e da tradição, que acreditava que a Terra estava sustentada por alguma coisa, sendo plana, Anaximandro descreve a Terra como um cilindro ou disco convexo, solto no espaço, imóvel, sem possuir um alto e um baixo. Quanto à afirmação de Anaximandro de que existem mundos inumeráveis, não se tem certeza se com isto ele afirmava que existem mundos simultâneos formados do Apeiron (que, sendo ilimitado, poderia dar origem a inumeráveis mundos) ou mundos sucessivos produzidos a cada nova separação no interior do ¥peiron, depois do fim de cada mundo
anterior.

Tales De Mileto



Tales De Mileto- Primeiro Filosofo Grego século VI ac
Tales, de ascendência fenícia, era natural da Jônia, na Ásia Menor, cidade famosa pelo florescente comércio marítimo, pátria também de Anaximandro e Anaxímenes. Floresceu pelo ano de 585 a.C.. Segundo o relato de Heródoto, Tales de Mileto foi um dos sete sábios da Grécia arcaica e, conforme Diógenes Laércio, teria sido o primeiro a ser assim chamado. Sua origem é desconhecida e alguns o consideram fenício. Sua akmé está ligada à predição que fez de um eclipse solar e cuja data não é segura (610, 597 ou 548 a.C.). A grande dificuldade para conhecer sua vida e sua obra deve-se ao fato de que nada deixou escrito (se é que escreveu alguma coisa). Tudo quanto sabemos sobre ele deve-se a fontes indiretas, as principais sendo Aristóteles, Teofrasto e Simplício.
Platão faz uma breve referência a Tales para repetir uma anedota muito espalhada na Grécia: por ser um teórico, isto é, um contemplador puro, Tales, caminhando com os olhos voltados para o céu, tropeçou numa pedra e caiu num poço. Consagrou-se, assim, a imagem que, daí por diante, os outros possuem do filósofo como pessoa distraída para as coisas práticas da vida e perdido em pensamentos abstratos. No entanto, os relatos sobre Tales nos oferecem uma imagem muito diferente desta. Foi um político interessado, procurando unir as cidades da Jônia numa confederação contra os persas; um hábil engenheiro, pretendendo desviar o curso de rios para favorecer a navegação e a irrigação; um hábil comerciante. Tales teria também estudado as causas das inundações do rio Nilo, desfazendo mitos que as narravam. Fez algumas descobertas astronômicas; além da previsão do eclipse solar, descobriu a constelação da Ursa Menor e aconselhou os navegantes a se guiarem por ela. Proclo lhe atribuiu o “Teorema de Tales” (dois triângulos são iguais quando possuem um lado igual compreendido entre dois ângulos iguais), mas é improvável que tenha sido seu autor. O mais provável é que o teorema tenha sido inspirado por um fato relatado por Plutarco, a saber, que Tales descobriu um método para medir a altura de uma pirâmide colocando a prumo uma vara no final da sombra da pirâmide e, traçando dois triângulos com a linha descrita pelo raio do Sol, mostrou que havia proporção entre a altura da pirâmide e a da vara ou entre os dois triângulos e suas sombras. É Aristóteles que consagra Tales como fundador da filosofia cosmológica, tendo sido o primeiro a tratar de modo sistemático e racional o problema da origem, transformação e conservação do mundo. Para Tales, o princípio de todas as coisas é a água, ou melhor, a qualidade da água, o úmido.
A água ou o úmido é o princípio de todo o universo, ou mais precisamente, de toda natureza, e a grandeza de Tales está em que não pergunta (como o mito perguntava) qual era a qualidade ou coisa primitiva, mas afirma qual é (antes, agora e sempre) a qualidade ou o ser primordial, isto é, aquilo de que o mundo é feito.
Por que Tales teria escolhido a água ou o úmido como princípio ou natureza, ação de brotar ? Os intérpretes oferecem várias razões para essa escolha, baseando-se naqueles autores que expuseram as opiniões do filósofo de Mileto:
1. a água apresenta-se sob as mais variadas formas e em todos os estados em que vemos os corpos da natureza: líquido, sólido, gasoso. Vemos a água passar de um estado a outro, de uma forma a outra, num processo contínuo no qual mantém a identidade consigo mesma. O fenômeno da evaporação faz pensar que a água é a causa do céu e do que nele existe; o fenômeno da chuva, que a água é a causa da terra e do que nela existe;
2. a água está diretamente vinculada à vida: as sementes, o sêmen animal e humano são úmidos (o cadáver em putrefação é uma umidade que vai se ressecando). “As coisas mortas secam, as sementes são úmidas, o alimento é suculento”, escreve Simplício, explicando a escolha de Tales;
3. Tales viajou pelo Egito e certamente se assombrou com as cheias do rio Nilo: a terra seca e desértica, antes da cheia, tornava-se fértil, verdejante, cheia de flores e frutos depois dela. Tales teria concluído que a água é a causa das plantas;
4. a existência de fósseis de animais marinhos, descobertos nas montanhas e em grandes altitudes, teria levado Tales a considerar que, no início, tudo era água e que a vida animal fora causada pela água;
5.a mitologia grega falava no rio Oceano que circundava toda a terra e que teria engendrado nosso mundo. Não seria descabido, portanto, supor que Tales houvesse dado uma explicação racional para a narrativa mítica; A água ou úmido, por ser princípio de todas as coisas, é também o princípio do devir, isto é, do movimento (k…nhsij) ou da mudança. É dotada de movimento próprio, ou seja, é automotora ou “se movente”: transforma-se a si mesma em todas as coisas e transforma todas as coisas nela mesma. Alguns denominam o auto movimento da Úsij com a expressão hylozoísmo (Ûlh, em grego, quer dizer matéria) para significar a matéria que possui em si mesma e por si mesma o princípio ou a causa de seus movimentos (geração, corrupção, alterações qualitativas e quantitativas, locomoção).
Tales, como os demais membros da Escola de Mileto, seria hylozoísta. Isso explicaria por que, segundo Aristóteles, teria afirmado que a água é “a alma motora do kÒsmoj”. O fato de considerar a água como alma, isto é,como princípio vital, leva Tales a considerar que todas as coisas são viventes ou animadas e por isso se transformam e se conservam. A água é o “deus inteligente” que faz todas as coisas e é a matéria e a alma de todas elas. Eis por que se atribui a Tales a afirmação: “Todas as coisas estão cheias de deuses”. Segundo o testemunho de Aristóteles, um dos argumentos de Tales para afirmar que todos os seres são animados ou vivos, e que por isso todas as coisas estão “cheias de deuses”, foi a observação sobre a chamada pedra de Magnésia, isto é, o ímã, que move o ferro. Com efeito, Tales considera que o princípio vital ou a uc» (em latim, anima e, em português, alma) é uma força motriz ou cinética, isto é, uma força capaz de k…nhsij, capaz de se mover e de mover outras coisas. Diante do ímã, Tales observa que há uma força cinética que atrai o ferro. Ora, se a alma é o princípio vital e uma força cinética, deve-se concluir que o ímã possui essa força e, portanto, é uma alma; ou seja, é preciso concluir que o ímã é animado, vivo. Tales oferece um argumento cuja estrutura é propriamente filosófica, pois, segundo o estudioso J. Barnes, em seu artigo Lês Penseurs préplatoniciens “deriva uma conclusão notável [tudo é animado] a partir de premissas que dependem, ao mesmo tempo, da observação empírica [o ímã move o ferro] e de uma análise conceitual [o que tem força cinética ou motora é vivo]”. Assim, não nos interessa saber se Tales estava “cientificamente” certo ou errado quanto à natureza viva ou animada do ímã, mas deve interessar-nos a maneira como ele raciocinou para chegar a tal afirmação, pois é essa maneira que é nova e propriamente filosófica. Foi esse modo novo de raciocinar que o fez concluir que a água era a ¢rc» (princípio) e Úsij (natureza, ação de brotar), isto é, ele deduziu e inferiu de fatos visíveis uma conclusão obtida apenas pela razão ( pensamento).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Mundo da Vida

O mundo da vida de Edmund Husserl
ResumoHusserl. O filósofo Edumund Husserl ( 1859-1938), matemático e lógico, professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, autor de Die Idee der Phänomenologie (A ideia da Fenomenologia - 1906) enfrenta o Psicologismo e o Historicismo, e funda a Fenomenologia; Husserl foi um dos mais celebres filósofos do seculo XX, o Filósofo alemão direcionou se trabalho para o estudo dos fenômenos, fez duras críticas ao psicologismo. Que nessa época, sustentava que a teoria do conhecimento e a lógica deveriam ser estudadas como disciplinas da Psicologia. Foi exatamente a esse tipo de argumentação que Husserl se posicionou contrario, pois acreditava que ambas são parte importante da filosofia e dependentes da consciência humana, não poderiam ser situadas no campo das ciências empíricas.A Filosofia Fenomenológica de HusserlFenomenologia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos, explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação"1. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (Noésis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). A Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísicaDurante todo seu esforço fenomenológico Husserl deixou explicito, que a força central do seu pensamento era proveniente das “meditações” Cartesianas,2 Husserl exaltava a importância da filosofia cartesiana pois acreditava que a filosofia do filósofo francês abriu uma nova fase do pensar humano. O “voltar-se para si”3 desenvolvido por Descartes como uma necessidade para o auto-conhecimento e consequentemente para conhecer o mundo, também serviu de base para o pensamento Husserliano. Para Husserl podemos duvidar de qualquer valor das ciências existentes, pode-se questionar sua exatidão, seu método, mas nada pode nos impedir de vivenciar as tendências e atividades cientificas e de extrairmos delas nossas próprias experiências e opiniões sobre o objeto que buscamos.Na Fenomenologia Husserl busca um ponto de partida para o conhecimento, ou seja, um principio que serviria de base ao seu pensamento e ao seu propósito, alcançar a essência das coisas. Esse ponto de partida e a intencionalidade da consciência, entendida aqui como atividade do conhecimento, que segundo o Filósofo alemão jamais poderia ser situado na campo dos fatos empíricos. daí a critica ao psicologismo.Dizer que a consciência é intencional é o mesmo que dizer: que quando conceituamos algo, estamos nos referindo a ideia de alguma coisa. Essa intencionalidade é a essência da consciência, e é representada pelo significado, ou nome pelo qual a consciência se dirige a cada objeto. João Paisana comenta em seu livro4 que a dificuldade em afirmar essa intencionalidade é saber até que ponto a consciência, as vivências cognitivas, não se encontram encerradas em si. Assim como é possível atingir o que as transcendem oque está para além delas mesmas. Segundo o próprio autor, é justamente a través do caráter intencional da consciência que Husserl pretende resolver a referida dificuldade.Como vimos anteriormente, ao afirmar a intencionalidade Husserl, quer dizer que toda a consciência é consciência de alguma coisa.5 significa dizer que toda as vivências da consciência, seja ela uma recordação, uma imagem, uma percepção, todas estas como um ato possuem um sentido, por isso não se encerram em si.Então deste modo é possível dizer que as vivências são atos intencionais da consciência, desta forma não são elementos concretos, reais, mas ideais. João Paisana ao se referir a intencionalidade husserliana comenta:A intencionalidade pode determinar o sentido ou a intenção significativa da vivencia intencional. Mas não pode por si só, Formular a validade do conhecimento. 6Deste modo João Paisana faz uma diferenciação quanto ao caráter intencional da consciência, pois segundo este, o ato só poder ser considerado intencional, quando o objeto visado esta presente de modo imediato. Por que dessa forma podemos extrair deles um conhecimento verdadeiro, do contrário quando recordamos ou imaginamos algum objeto não podemos extrair deles mais nada, do que meras sensações.Já segundo Husserl, na evidência esta explícito a experiência de um ser e o seu modo de ser, nela á coisa ou o fato não é somente vista de maneira distante e inadequada, ela esta presente diante de nós, o sujeito que julga tem dela uma consciência imanem.7Como vimos Husserl identifica as evidencias ou vivências como fenômenos, este defende que o estudo da realidade deve ser feitos a partir desses fenômenos, daí a existência do Lebenswelt, o mundo da vida. O mundo que cerca o Homem, mas o que vem a ser esses fenômenos que cerca e influência a vida do Homem?Pode-se inferir do pensamento Husserliano que esses fenômenos são um produto final de um processo de conhecimento noético-noemático, onde Noésis é o ato de perceber o mundo e Noema é a resposta do mundo percebido,ou seja é o correlato do ato de perceber, que se encontra na primeira redução fenomenológica ou Epochê8 encontra-se na Redução Eidética.9 nela é possível encontrar a essência das coisas, o significado ideal dos objetos empíricosNotamos então que há separação do sujeito-objeto na concepção husserliana sujeito é um ser capaz de atos de consciência como perceber, julgar, imaginar e recordar, já os objetos são o que se manifesta nesses atos.Então o nosso conhecimento começa com a experiencia de coisas existentes nos fatos, onde os fatos são visto como algo contingente, isto é, pode ser ou não ser. Nos fatos sempre se capta uma essência , segundo Husserl, essa essência são as formas, maneiras ou modos como esses fenômenos se apresentam à nós. Esse conhecimento das essências só é possível através da intuição eidética10, ou seja, A intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido, é o modo de apreender a essência, então esse conhecimento não é imediato, obtido através de abstrações ou comparações de diversos fatos, mas para isso é preciso já ter captado uma essência ou algo, um aspecto pelo qual eles sejam semelhantes, é isso que Husserl chama de intuição.Na verdade o que vai importa na fenomenologia não é o objeto em si, mas o aparecer destes objetos, pois é através deles, os noemas como se refere Husserl, que são as formas de perceber o mundo que o Homem vai conhecer a realidade.Mas tudo isso só é possível, graças á segunda redução fenomenologia, á redução transcendental, que na verdade deveria ser considerada a primeira, pois assim como Descartes fez na segunda meditação cartesiana, Husserl o faz aqui, coloca todo o conhecimento cientifico, todo o conhecimento de mundo que possui sob suspeita.Duvida de suas convicções de tudo que acretiva até então, para poder chegar em um fundamento único que seja apodítico, ou seja necessário. Que jamais será e poderá ser posto á dúvida.. é nesse processo de questionamento, nesse voltar-se para -si que o homem alcança o ego puro, e transcende ao verdadeiro conhecimento.Então podemos dizer que o ego transcendental é o ponto de partida para o conhecimento, pois a partir deste, o homem descobre a intencionalidade da consciência, difere a realidade do ideal, descobre os vários mundos que o circunda, como se refere Husserl ao falar do Lebenswelt, ou ainda do mundo da vida.Para Husserl a vida é a própria consciência que o sujeito possui de si mesmo, dos objetos e do mundo que o cerca. O que ele quer dizer com isso, é que somos parte de um todo, de um sistema, que a nossa subjetividade compõe o mundo que nos cerca.Husserl quer afirmar que não precisamos do conhecimento científico para explicar e saber como realmente é a realidade, ou os vários mundos que estamos inseridos, sejam com relação aos objetos, as coisas ou aos próprios seres humanos. Por isso afirma essa dualidade de conhecimento, essa troca de informações que ocorre no processo noético-noemático quando percebemos alguma coisa. Quando tentamos de alguma forma expressar a realidade, ou ainda a verdade dos objetos e do próprio mundo.O ego puro então é a condição de possibilidade do conhecimento, o homem só conhece a verdadeira essência das coisas na redução fenomenologia aplicada ao próprio sujeito. Ou seja pondo entre parenteses tudo aquilo que acreditava e aceitando como certo e indubitável alguns pressupostos.Jovino Pizzi em seu livro “ o Mundo da Vida” relata que com a categoria do mundo da vida:Husserl evidencia que o sujeito enquanto tal, tem um mundo ao seu redor e a ele pertence -como os demais seres vivos-não necessitando a recorrer a ciência experimental para afirmar a certeza disso. Não se trata portanto do mundo na atitude natural , na qual os interesses téoricos e práticos são dirigidos a entes (ou fenômenos) do mundo, mas é o mundo histórico cultural concreto, das vivências cotidianas com seus usos e costumes, saberes e valores, ante as quais se encontram a imagem do mundo elaborado pela ciência.11Com isso podemos entender melhor o que Husserl queria dizer quando afirmava a intencionalidade da consciência, queria dizer que, o que importava, para ele, era o que se passava na experiência de consciência, através de uma descrição precisa do fenômeno.Assim analisando primeiro o valor das idéias, interpretando cada essência, de cada objeto que nos cerca, analisando o mundo que estamos inseridos, e só depois disso passamos ao estudo de uma realidade transcendental, ao apogeu do “Eu Puro”. Transcendendo para além da ciência mas sem perder a racionalidade. Com respeito a isso diz Husserl:O Mundo objetivo, que existe para mim, que existiu ou existira para mim, esse mundo objetivo com todos os seus objetos encontra em mim mesmo, como disse acima, todo o sentido e todo o valor existencial que tem para mim; ele os encontra no meu eu transcendental, que só revela a εποχη fenomenológica transcendental..12O que Filosofo Alemão quis dizer é que não podemos pensar o mundo evidente existente, sem partir das nossas próprias evidencias e atos.Considerações FinaisPortanto como vimos o método fenomenológico de Husserl não é empírico nem dedutivo, apenas tem a finalidade de mostrar o que as “coisas” ou os fenômenos são e como são. Como Husserl propõe essa fundamentação, ele o faz através da Fenomenologia transcendental, ou seja alcançando um argumento ou uma base forte e segura livre de pressuposições.Isto se dá, mediante a Epochê, perguntando pelo verdadeiro sentido das coisas e da própria vida, o Homem reencontrará no mundo da vida a resposta para sua inquietude, conhecer a essência do conhecimento.Deste modo a fenomenologia se converte na ciência da essência das vivências puras. A realidade inteira aparece como uma corrente das vivências concebidas como atos puros. Ou seja o Lebenswelt que nada mais é que o mundo histórico cultural em que o sujeito esta inserido, é depois de ser posto a prova, o mundo transcendente onde o “eu “ puro encontra sua plenitude.BibliografiaPizzi, Jovino o Mundo da Vida: Husserl e Habermas/Jovino Pizzi; prof Ricardo Sallas Astrim -I jui;Ed, Unijui .2006-184p.-(coleção Filosofia;11)Paisana, João Husserl e a idéia de Europa; João Paisana e Edições Contraponto, março de 1997.Realle Giovani História da Filosofia: Do romantismo até os nossos dias; Giovani Reale, Dario Antisere;São Paulo:Paulus,1991-(coleção Filosofia).Husserl, Edmund Meditações Cartesianas; São Paulo: Editora Martins Fontes,20011Toda e qualquer significado que uma única palavra pode nos remeter, dependendo das várias formas que pensamos ou imaginamos esta.2Renê Descartes Celebre Filósofo Francês, considerado por muitos como o responsável por uma profunda revolução no pensamento Filosófico. Com uma Filosofia voltada para o sujeito, descartes utilizava ao método da duvida para chegar ao conhecimento.3“ voltar-si para si” em descartes significava um momento de introspecção, era como colocar o mundo e todo o conhecimento cientifico sob questionamento.”4Husserl e a Idéia de Europa Pg 355João Paisana “Husserl e a idéia de Europa”6João Paisana Husserl e a idéia de Europa Pg 387Husserl,Edmund Meditações cartesianas. São Paulo. Editora Martins Fontes, 20018Epochê é colocar entre parenteses o mundo tomado materialmente, é a ausência de Juízo em relação ao mundo.9Eidética tem origem na termo grego Eidos que quer dizer idéia, ou estrutura do objeto.10(...)Intuição eidética é um conhecimento distinto do conhecimento dos fatos, pois os fatos particulares são casos ou ocorrências de essências eidéticas(...) Giovani Reale História da Filosofia- do romantismo até os nossos dias, Pag 560.11Trecho extraído da obra “ o mundo da vida”, Pag 63 do professor Jovino Pizzi Jornalista e Doutor em Filosofia pela Universidade de Jameu I (Espanha), pesquisador CNPq e Professor da Universidade Católica de Pelotas.12Husserl, Edmund Meditações Cartesianos, São Paulo, editora Martins Fontes,2001