sábado, 23 de fevereiro de 2008

Anaxímenes de Mileto


ANAXÍMENES DE MILETO (cerca de 585-525 a.C.)
Anaxímenes foi discípulo e continuador de Anaximandro. Escreveu sua obra, “Sobre a Natureza”, também em prosa, no dialeto jônico. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. Os antigos consideraram Anaxímenes a figura principal da escola de Mileto.
FRAGMENTOS:
1. O contraído e condensado da matéria ele diz que é frio, e o ralo e frouxo (é assim que ele se expressa) é quente.
2. Como nossa alma, ele diz, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o
cosmos, sopro e ar o mantêm. O sol é largo como uma folha.
A archê, ou o princípio, é o ar. As idéias de Anaxímenes podem parecer um retrocesso se comparadas às de Anaximandro, que evitara identificar a archê com qualquer dos elementos ou qualidades sensíveis de nossa experiência. Na verdade, não é o caso. Anaxímenes considera o Apeiron de Anaximandro ainda muito próximo do caos que é descrito pelo mito antigo. Mantendo a idéia central de seu predecessor, isto é, que a ¢rc» é ilimitada, incorruptível e imortal, Anaxímenes exige que ela seja determinada ou qualificada, pois o pensamento só pode pensar o que possui determinações.
O ar, não é o frio e o ar que sentimos, mas o princípio do qual o ar de nossa vida e de nossa experiência provém. Torna-se sensível para nós por meio do frio, do quente, do úmido e do seco, mas, quando perfeitamente homogêneo e idêntico a si mesmo, torna-se insensível e só pode ser apreendido pelo pensamento. Por que a escolha do ar? Segundo o testemunho doxográfico, Anaxímenes teria escrito que “assim como nossa alma, que é ar, nos sustenta e nos governa, assim também o sopro e o ar abraçam todo o cosmos” e que “o ar está nas cercanias do incorpóreo [sem forma e invisível] e já que nascemos graças ao seu fluxo, é preciso que seja ilimitado para que jamais acabe”. Assim, podemos supor que Anaxímenes concebeu o ar como Úsij e ¢rc» porque:
1. ao contrário da água, que precisa de um suporte ou de um continente, o ar sustenta-se a si mesmo; possui uma autonomia ou auto-suficiência, própria de um fundamento ou princípio;
2. sua presença e sua difusão são ilimitadas, podendo compor todas as coisas;
3. respirar é o primeiro ato de um ser vivo e também o último, antes de morrer, por isso o ar é o
princípio vital. Num dos fragmentos lemos: “como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmos, sopro e ar o mantêm”. O ar, alma nossa e do mundo, é o que mantém unidas as partes de um todo — nosso corpo e o cosmos. O mundo é um ser vivo
que respira e que recebe do sopro originário a unidade que o mantém. A grande originalidade de Anaxímenes, perante Tales e Anaximandro, consiste no fato de que a multiplicidade, transformação e ordenação do mundo se fazem por alterações quantitativas em um único princípio:menos ar (rarefação) e mais ar (condensação) determinam toda a variação e organização do real. O ar, elemento universal, invisível e indeterminado, por sua força interna própria, movimenta-se: contraindo-se ou dilatando-se, vai engendrando todos os seres determinados como manifestações visíveis de uma vida perene. O cosmos vive no ritmo de uma respiração gigantesca que o anima e
mantém coesas suas partes.

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