sábado, 16 de fevereiro de 2008

Tales De Mileto



Tales De Mileto- Primeiro Filosofo Grego século VI ac
Tales, de ascendência fenícia, era natural da Jônia, na Ásia Menor, cidade famosa pelo florescente comércio marítimo, pátria também de Anaximandro e Anaxímenes. Floresceu pelo ano de 585 a.C.. Segundo o relato de Heródoto, Tales de Mileto foi um dos sete sábios da Grécia arcaica e, conforme Diógenes Laércio, teria sido o primeiro a ser assim chamado. Sua origem é desconhecida e alguns o consideram fenício. Sua akmé está ligada à predição que fez de um eclipse solar e cuja data não é segura (610, 597 ou 548 a.C.). A grande dificuldade para conhecer sua vida e sua obra deve-se ao fato de que nada deixou escrito (se é que escreveu alguma coisa). Tudo quanto sabemos sobre ele deve-se a fontes indiretas, as principais sendo Aristóteles, Teofrasto e Simplício.
Platão faz uma breve referência a Tales para repetir uma anedota muito espalhada na Grécia: por ser um teórico, isto é, um contemplador puro, Tales, caminhando com os olhos voltados para o céu, tropeçou numa pedra e caiu num poço. Consagrou-se, assim, a imagem que, daí por diante, os outros possuem do filósofo como pessoa distraída para as coisas práticas da vida e perdido em pensamentos abstratos. No entanto, os relatos sobre Tales nos oferecem uma imagem muito diferente desta. Foi um político interessado, procurando unir as cidades da Jônia numa confederação contra os persas; um hábil engenheiro, pretendendo desviar o curso de rios para favorecer a navegação e a irrigação; um hábil comerciante. Tales teria também estudado as causas das inundações do rio Nilo, desfazendo mitos que as narravam. Fez algumas descobertas astronômicas; além da previsão do eclipse solar, descobriu a constelação da Ursa Menor e aconselhou os navegantes a se guiarem por ela. Proclo lhe atribuiu o “Teorema de Tales” (dois triângulos são iguais quando possuem um lado igual compreendido entre dois ângulos iguais), mas é improvável que tenha sido seu autor. O mais provável é que o teorema tenha sido inspirado por um fato relatado por Plutarco, a saber, que Tales descobriu um método para medir a altura de uma pirâmide colocando a prumo uma vara no final da sombra da pirâmide e, traçando dois triângulos com a linha descrita pelo raio do Sol, mostrou que havia proporção entre a altura da pirâmide e a da vara ou entre os dois triângulos e suas sombras. É Aristóteles que consagra Tales como fundador da filosofia cosmológica, tendo sido o primeiro a tratar de modo sistemático e racional o problema da origem, transformação e conservação do mundo. Para Tales, o princípio de todas as coisas é a água, ou melhor, a qualidade da água, o úmido.
A água ou o úmido é o princípio de todo o universo, ou mais precisamente, de toda natureza, e a grandeza de Tales está em que não pergunta (como o mito perguntava) qual era a qualidade ou coisa primitiva, mas afirma qual é (antes, agora e sempre) a qualidade ou o ser primordial, isto é, aquilo de que o mundo é feito.
Por que Tales teria escolhido a água ou o úmido como princípio ou natureza, ação de brotar ? Os intérpretes oferecem várias razões para essa escolha, baseando-se naqueles autores que expuseram as opiniões do filósofo de Mileto:
1. a água apresenta-se sob as mais variadas formas e em todos os estados em que vemos os corpos da natureza: líquido, sólido, gasoso. Vemos a água passar de um estado a outro, de uma forma a outra, num processo contínuo no qual mantém a identidade consigo mesma. O fenômeno da evaporação faz pensar que a água é a causa do céu e do que nele existe; o fenômeno da chuva, que a água é a causa da terra e do que nela existe;
2. a água está diretamente vinculada à vida: as sementes, o sêmen animal e humano são úmidos (o cadáver em putrefação é uma umidade que vai se ressecando). “As coisas mortas secam, as sementes são úmidas, o alimento é suculento”, escreve Simplício, explicando a escolha de Tales;
3. Tales viajou pelo Egito e certamente se assombrou com as cheias do rio Nilo: a terra seca e desértica, antes da cheia, tornava-se fértil, verdejante, cheia de flores e frutos depois dela. Tales teria concluído que a água é a causa das plantas;
4. a existência de fósseis de animais marinhos, descobertos nas montanhas e em grandes altitudes, teria levado Tales a considerar que, no início, tudo era água e que a vida animal fora causada pela água;
5.a mitologia grega falava no rio Oceano que circundava toda a terra e que teria engendrado nosso mundo. Não seria descabido, portanto, supor que Tales houvesse dado uma explicação racional para a narrativa mítica; A água ou úmido, por ser princípio de todas as coisas, é também o princípio do devir, isto é, do movimento (k…nhsij) ou da mudança. É dotada de movimento próprio, ou seja, é automotora ou “se movente”: transforma-se a si mesma em todas as coisas e transforma todas as coisas nela mesma. Alguns denominam o auto movimento da Úsij com a expressão hylozoísmo (Ûlh, em grego, quer dizer matéria) para significar a matéria que possui em si mesma e por si mesma o princípio ou a causa de seus movimentos (geração, corrupção, alterações qualitativas e quantitativas, locomoção).
Tales, como os demais membros da Escola de Mileto, seria hylozoísta. Isso explicaria por que, segundo Aristóteles, teria afirmado que a água é “a alma motora do kÒsmoj”. O fato de considerar a água como alma, isto é,como princípio vital, leva Tales a considerar que todas as coisas são viventes ou animadas e por isso se transformam e se conservam. A água é o “deus inteligente” que faz todas as coisas e é a matéria e a alma de todas elas. Eis por que se atribui a Tales a afirmação: “Todas as coisas estão cheias de deuses”. Segundo o testemunho de Aristóteles, um dos argumentos de Tales para afirmar que todos os seres são animados ou vivos, e que por isso todas as coisas estão “cheias de deuses”, foi a observação sobre a chamada pedra de Magnésia, isto é, o ímã, que move o ferro. Com efeito, Tales considera que o princípio vital ou a uc» (em latim, anima e, em português, alma) é uma força motriz ou cinética, isto é, uma força capaz de k…nhsij, capaz de se mover e de mover outras coisas. Diante do ímã, Tales observa que há uma força cinética que atrai o ferro. Ora, se a alma é o princípio vital e uma força cinética, deve-se concluir que o ímã possui essa força e, portanto, é uma alma; ou seja, é preciso concluir que o ímã é animado, vivo. Tales oferece um argumento cuja estrutura é propriamente filosófica, pois, segundo o estudioso J. Barnes, em seu artigo Lês Penseurs préplatoniciens “deriva uma conclusão notável [tudo é animado] a partir de premissas que dependem, ao mesmo tempo, da observação empírica [o ímã move o ferro] e de uma análise conceitual [o que tem força cinética ou motora é vivo]”. Assim, não nos interessa saber se Tales estava “cientificamente” certo ou errado quanto à natureza viva ou animada do ímã, mas deve interessar-nos a maneira como ele raciocinou para chegar a tal afirmação, pois é essa maneira que é nova e propriamente filosófica. Foi esse modo novo de raciocinar que o fez concluir que a água era a ¢rc» (princípio) e Úsij (natureza, ação de brotar), isto é, ele deduziu e inferiu de fatos visíveis uma conclusão obtida apenas pela razão ( pensamento).

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá.gostaria de parabenizar pelo belo texto.me ajuou muito na minha pesquisa sobre Tales de Mileto.