domingo, 26 de outubro de 2008


O Ego Transcendental Como Ponto de Partida Para O Conhecimento

Acadêmica: Fabiane weber

Resumo
Husserl. O filósofo Edumund Husserl ( 1859-1938), matemático e lógico, professor em Göttingen e Freiburg im Breisgau, autor de Die Idee der Phänomenologie (A ideia da Fenomenologia - 1906) enfrenta o Psicologismo e o Historicismo, e funda a Fenomenologia; Husserl foi um dos mais celebres filósofos do seculo XX, o Filósofo alemão direcionou se trabalho para o estudo dos fenômenos, fez duras críticas ao psicologismo. Que nessa época, sustentava que a teoria do conhecimento e a lógica deveriam ser estudadas como disciplinas da Psicologia. Foi exatamente a esse tipo de argumentação que Husserl se posicionou contrario, pois acreditava que ambas são parte importante da filosofia e dependentes da consciência humana, não poderiam ser situadas no campo das ciências empíricas.
A Filosofia Fenomenológica de Husserl
Fenomenologia (do grego phainesthai, aquilo que se apresenta ou que se mostra, e logos, explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação"1. Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (Noésis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema). A Fenomenologia representou uma reação à pretensão dos cientistas de eliminar a metafísica
Durante todo seu esforço fenomenológico Husserl deixou explicito, que a força central do seu pensamento era proveniente das “meditações” Cartesianas,2 Husserl exaltava a importância da filosofia cartesiana pois acreditava que a filosofia do filósofo francês abriu uma nova fase do pensar humano. O “voltar-se para si”3 desenvolvido por Descartes como uma necessidade para o auto-conhecimento e consequentemente para conhecer o mundo, também serviu de base para o pensamento Husserliano. Para Husserl podemos duvidar de qualquer valor das ciências existentes, pode-se questionar sua exatidão, seu método, mas nada pode nos impedir de vivenciar as tendências e atividades cientificas e de extrairmos delas nossas próprias experiências e opiniões sobre o objeto que buscamos.
Na Fenomenologia Husserl busca um ponto de partida para o conhecimento, ou seja, um principio que serviria de base ao seu pensamento e ao seu propósito, alcançar a essência das coisas. Esse ponto de partida e a intencionalidade da consciência, entendida aqui como atividade do conhecimento, que segundo o Filósofo alemão jamais poderia ser situado na campo dos fatos empíricos. daí a critica ao psicologismo.
Dizer que a consciência é intencional é o mesmo que dizer: que quando conceituamos algo, estamos nos referindo a ideia de alguma coisa. Essa intencionalidade é a essência da consciência, e é representada pelo significado, ou nome pelo qual a consciência se dirige a cada objeto. João Paisana comenta em seu livro4 que a dificuldade em afirmar essa intencionalidade é saber até que ponto a consciência, as vivências cognitivas, não se encontram encerradas em si. Assim como é possível atingir o que as transcendem oque está para além delas mesmas. Segundo o próprio autor, é justamente a través do caráter intencional da consciência que Husserl pretende resolver a referida dificuldade.
Como vimos anteriormente, ao afirmar a intencionalidade Husserl, quer dizer que toda a consciência é consciência de alguma coisa.5 significa dizer que toda as vivências da consciência, seja ela uma recordação, uma imagem, uma percepção, todas estas como um ato possuem um sentido, por isso não se encerram em si.
Então deste modo é possível dizer que as vivências são atos intencionais da consciência, desta forma não são elementos concretos, reais, mas ideais. João Paisana ao se referir a intencionalidade husserliana comenta:
A intencionalidade pode determinar o sentido ou a intenção significativa da vivencia intencional. Mas não pode por si só, Formular a validade do conhecimento. 6
Deste modo João Paisana faz uma diferenciação quanto ao caráter intencional da consciência, pois segundo este, o ato só poder ser considerado intencional, quando o objeto visado esta presente de modo imediato. Por que dessa forma podemos extrair deles um conhecimento verdadeiro, do contrário quando recordamos ou imaginamos algum objeto não podemos extrair deles mais nada, do que meras sensações.
Já segundo Husserl, na evidência esta explícito a experiência de um ser e o seu modo de ser, nela á coisa ou o fato não é somente vista de maneira distante e inadequada, ela esta presente diante de nós, o sujeito que julga tem dela uma consciência imanem.7
Como vimos Husserl identifica as evidencias ou vivências como fenômenos, este defende que o estudo da realidade deve ser feitos a partir desses fenômenos, daí a existência do Lebenswelt, o mundo da vida. O mundo que cerca o Homem, mas o que vem a ser esses fenômenos que cerca e influência a vida do Homem?
Pode-se inferir do pensamento Husserliano que esses fenômenos são um produto final de um processo de conhecimento noético-noemático, onde Noésis é o ato de perceber o mundo e Noema é a resposta do mundo percebido,ou seja é o correlato do ato de perceber, que se encontra na primeira redução fenomenológica ou Epochê8 encontra-se na Redução Eidética.9 nela é possível encontrar a essência das coisas, o significado ideal dos objetos empíricos
Notamos então que há separação do sujeito-objeto na concepção husserliana sujeito é um ser capaz de atos de consciência como perceber, julgar, imaginar e recordar, já os objetos são o que se manifesta nesses atos.
Então o nosso conhecimento começa com a experiencia de coisas existentes nos fatos, onde os fatos são visto como algo contingente, isto é, pode ser ou não ser. Nos fatos sempre se capta uma essência , segundo Husserl, essa essência são as formas, maneiras ou modos como esses fenômenos se apresentam à nós. Esse conhecimento das essências só é possível através da intuição eidética10, ou seja, A intuição eidética é essencial para a redução eidética. Ela é o dar-se conta da essência, do significado do que foi percebido, é o modo de apreender a essência, então esse conhecimento não é imediato, obtido através de abstrações ou comparações de diversos fatos, mas para isso é preciso já ter captado uma essência ou algo, um aspecto pelo qual eles sejam semelhantes, é isso que Husserl chama de intuição.
Na verdade o que vai importa na fenomenologia não é o objeto em si, mas o aparecer destes objetos, pois é através deles, os noemas como se refere Husserl, que são as formas de perceber o mundo que o Homem vai conhecer a realidade.
Mas tudo isso só é possível, graças á segunda redução fenomenologia, á redução transcendental, que na verdade deveria ser considerada a primeira, pois assim como Descartes fez na segunda meditação cartesiana, Husserl o faz aqui, coloca todo o conhecimento cientifico, todo o conhecimento de mundo que possui sob suspeita.
Duvida de suas convicções de tudo que acretiva até então, para poder chegar em um fundamento único que seja apodítico, ou seja necessário. Que jamais será e poderá ser posto á dúvida.. é nesse processo de questionamento, nesse voltar-se para -si que o homem alcança o ego puro, e transcende ao verdadeiro conhecimento.
Então podemos dizer que o ego transcendental é o ponto de partida para o conhecimento, pois a partir deste, o homem descobre a intencionalidade da consciência, difere a realidade do ideal, descobre os vários mundos que o circunda, como se refere Husserl ao falar do Lebenswelt, ou ainda do mundo da vida.
Para Husserl a vida é a própria consciência que o sujeito possui de si mesmo, dos objetos e do mundo que o cerca. O que ele quer dizer com isso, é que somos parte de um todo, de um sistema, que a nossa subjetividade compõe o mundo que nos cerca.
Husserl quer afirmar que não precisamos do conhecimento científico para explicar e saber como realmente é a realidade, ou os vários mundos que estamos inseridos, sejam com relação aos objetos, as coisas ou aos próprios seres humanos. Por isso afirma essa dualidade de conhecimento, essa troca de informações que ocorre no processo noético-noemático quando percebemos alguma coisa. Quando tentamos de alguma forma expressar a realidade, ou ainda a verdade dos objetos e do próprio mundo.
O ego puro então é a condição de possibilidade do conhecimento, o homem só conhece a verdadeira essência das coisas na redução fenomenologia aplicada ao próprio sujeito. Ou seja pondo entre parenteses tudo aquilo que acreditava e aceitando como certo e indubitável alguns pressupostos.
Jovino Pizzi em seu livro “ o Mundo da Vida” relata que com a categoria do mundo da vida:
Husserl evidencia que o sujeito enquanto tal, tem um mundo ao seu redor e a ele pertence -como os demais seres vivos-não necessitando a recorrer a ciência experimental para afirmar a certeza disso. Não se trata portanto do mundo na atitude natural , na qual os interesses teóricos e práticos são dirigidos a entes (ou fenômenos) do mundo, mas é o mundo histórico cultural concreto, das vivências cotidianas com seus usos e costumes, saberes e valores, ante as quais se encontram a imagem do mundo elaborado pela ciência.11
Com isso podemos entender melhor o que Husserl queria dizer quando afirmava a intencionalidade da consciência, queria dizer que, o que importava, para ele, era o que se passava na experiência de consciência, através de uma descrição precisa do fenômeno.
Assim analisando primeiro o valor das idéias, interpretando cada essência, de cada objeto que nos cerca, analisando o mundo que estamos inseridos, e só depois disso passamos ao estudo de uma realidade transcendental, ao apogeu do “Eu Puro”. Transcendendo para além da ciência mas sem perder a racionalidade. Com respeito a isso diz Husserl:
O Mundo objetivo, que existe para mim, que existiu ou existira para mim, esse mundo objetivo com todos os seus objetos encontra em mim mesmo, como disse acima, todo o sentido e todo o valor existencial que tem para mim; ele os encontra no meu eu transcendental, que só revela a εποχη fenomenológica transcendental..12
O que Filosofo Alemão quis dizer é que não podemos pensar o mundo evidente existente, sem partir das nossas próprias evidencias e atos.
Considerações Finais
Portanto como vimos o método fenomenológico de Husserl não é empírico nem dedutivo, apenas tem a finalidade de mostrar o que as “coisas” ou os fenômenos são e como são. Como Husserl propõe essa fundamentação, ele o faz através da Fenomenologia transcendental, ou seja alcançando um argumento ou uma base forte e segura livre de pressuposições.
Isto se dá, mediante a Epochê, perguntando pelo verdadeiro sentido das coisas e da própria vida, o Homem reencontrará no mundo da vida a resposta para sua inquietude, conhecer a essência do conhecimento.
Deste modo a fenomenologia se converte na ciência da essência das vivências puras. A realidade inteira aparece como uma corrente das vivências concebidas como atos puros. Ou seja o Lebenswelt que nada mais é que o mundo histórico cultural em que o sujeito esta inserido, é depois de ser posto a prova, o mundo transcendente onde o “eu “ puro encontra sua plenitude.
Bibliografia
Pizzi, Jovino o Mundo da Vida: Husserl e Habermas/Jovino Pizzi; prof Ricardo Sallas Astrim -I jui;Ed, Unijui .2006-184p.-(coleção Filosofia;11)
Paisana, João Husserl e a idéia de Europa; João Paisana e Edições Contraponto, março de 1997.
Realle Giovani História da Filosofia: Do romantismo até os nossos dias; Giovani Reale, Dario Antisere;São Paulo:Paulus,1991-(coleção Filosofia).
Husserl, Edmund Meditações Cartesianas; São Paulo: Editora Martins Fontes,2001
1Toda e qualquer significado que uma única palavra pode nos remeter, dependendo das várias formas que pensamos ou imaginamos esta.
2Renê Descartes Celebre Filósofo Francês, considerado por muitos como o responsável por uma profunda revolução no pensamento Filosófico. Com uma Filosofia voltada para o sujeito, descartes utilizava ao método da duvida para chegar ao conhecimento.
3“ voltar-si para si” em descartes significava um momento de introspecção, era como colocar o mundo e todo o conhecimento cientifico sob questionamento.”
4Husserl e a Idéia de Europa Pg 35
5João Paisana “Husserl e a idéia de Europa”
6João Paisana Husserl e a idéia de Europa Pg 38
7Husserl,Edmund Meditações cartesianas. São Paulo. Editora Martins Fontes, 2001
8Epochê é colocar entre parenteses o mundo tomado materialmente, é a ausência de Juízo em relação ao mundo.
9Eidética tem origem na termo grego Eidos que quer dizer idéia, ou estrutura do objeto.
10(...)Intuição eidética é um conhecimento distinto do conhecimento dos fatos, pois os fatos particulares são casos ou ocorrências de essências eidéticas(...) Giovani Reale História da Filosofia- do romantismo até os nossos dias, Pag 560.
11Trecho extraído da obra “ o mundo da vida”, Pag 63 do professor Jovino Pizzi Jornalista e Doutor em Filosofia pela Universidade de Jameu I (Espanha), pesquisador CNPq e Professor da Universidade Católica de Pelotas.
12Husserl, Edmund Meditações Cartesianos, São Paulo, editora Martins Fontes,2001

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